Meios de pagamento pelo mundo: Colômbia
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Ricardo Longo, Diretor de Marketing e Produtos da Dock, esteve em Bogotá, na Colômbia, e relata suas impressões sobre o mercado de meios de pagamento por lá.
Passei a última semana em Bogotá para acompanhar as reuniões de um cliente que irá iniciar sua operação na Colômbia, utilizando nossa plataforma de contas digitais. Nunca havia pisado em solo colombiano e é sempre muito interessante conhecer um novo país, um povo e uma cultura diferentes.
Mas o que eu estava mais interessado mesmo era em avaliar e entender o cenário e a indústria de meios de pagamento colombiana.
Nesse aspecto, em resumo, a Colômbia é como um mini-Brasil de 3, 5 ou até 10 anos atrás (dependendo do critério que se analisa). Mas o que pode parecer um problema, é também sempre uma grande oportunidade.
E no caso da Colômbia, isso é ainda mais verdadeiro pois há claramente no país uma onda muito forte de inclusão da população no sistema financeiro, envolvendo bancos, fintechs, empresas do setor e o poder público.
Para entenderem o que quero dizer, seguem algumas características da indústria e da cultura de pagamentos deste país, que tem 50 milhões de habitantes (Brasil 210 M) e renda per capta base PPC de US$14k (Brasil US$15,5k):
- 85 a 90% de todos os pagamentos ainda são realizados em DINHEIRO. No Brasil, dependendo do critério, pagamentos em dinheiro já são menos frequentes que pagamentos por cartões;
- Há somente 15M de cartões de crédito e 30M de cartões de débito emitidos no país e a frequencia de uso ainda é relativamente baixa. Proporcionalmente à população, o Brasil tem mais que o dobro disso;
- Uma instituição que todos adoram por lá é uma empresa chamada Efecty (nome que vem de “efectivo” que é dinheiro vivo em espanhol). Com “tiendas” espalhadas por todos as esquinas, é possível pagar contas, sacar e depositar dinheiro e ainda enviar dinheiro para qualquer pessoa no país, que pode ir a uma loja sacar o valor depositado na mesma hora, mesmo sem ter nenhum tipo de conta.
Um pouco sobre os bancos
- Setor que passou por forte concentração recente, havendo hoje menos de 30 bancos no país todo, com a maioria dos ativos e negócios nas mãos de poucos (como aqui);
- Realizar uma transferência entre bancos não é simples como no Brasil. Segundo um funcionário brasileiro do nosso cliente que mora na Colômbia há cerca de um ano, é bem trabalhoso, tem que até ligar no banco para confirmar dados;
- Avaliamos também a interface de alguns aplicativos de banco e todos nos pareceram muito simplórios, com design antiquado e poucas funcionalidades;
- Correlacionado a isso, também chamou minha atenção a quantidade de agências que os bancos ainda tem. Comparado ao tamanho do território, população e número de correntistas, o volume de agências é enorme;
- Numa reunião com o banco mais digitalizado de lá, a diretora se gabou de que o aplicativo dela lia o código de barras do boleto. Contou também com orgulho que colocou uma operação de venda de cartão de crédito com um varejista na qual aprova ou não o crédito em 5 minutos… coisas corriqueiras por aqui.
Sobre adquirência e maquininhas
- As famosas maquininhas de cartão são chamadas por lá de “Datáfonos” e, mesmo em grandes varejos, também havia datáfonos e não TEFs (não sei se existe esse tipo de aparelho por lá, mas eu não vi);
- São apenas 550 mil datáfonos em operação no país inteiro e conseguir um para seu estabelecimento ainda é um sacrifício – burocrático, bem demorado e caro, sendo que ainda são alugadas — como se via por aqui há alguns anos (e não compradas);
- Curioso também que mesmo usando chip, ainda precisa digitar os 4 últimos dígitos do cartão e, após digitar senha, ainda imprime o papelzinho com necessidade de assinatura;
- Todas os datáfonos são fornecidos/operados tecnologicamente por somente duas empresas (RedeBan e CredibanCo), mas são vendidos e operados financeiramente pelos bancos;
- Definitivamente não há a “guerra das maquininhas” que vemos em terras brasileiras, seja por questões tecnológicas, culturais ou de dinâmica entre os players da indústria como um todo. Na Colômbia não há o incentivo econômico que temos aqui, já que adquirência no Brasil se tornou um grande business financeiro.
Como será o futuro dos meios de pagamento na Colômbia?
Com todo esse cenário ainda a ser evoluído em termos de pagamento eletrônicos, fica a pergunta: será que a Colômbia vai evoluir para um modelo mais parecido com EUA/Europa (alta adoção de cartões e meios de pagamento eletrônicos tradicionais) ou para algo mais parecido com a China (que “pulou” a fase dos cartões e adotou modelos já baseados em celular e reconhecimento facial)? Ou ainda para uma terceira via “mista”, com componentes de ambos os modelos?
Na minha opinião, a resposta para esta pergunta – corroborando para a comparação que fiz no início do texto – passa muito por analisar a evolução recente e atual do mercado brasileiro.
Acredito que a Colômbia vai ainda evoluir bastante em termos de cartões (independente do plástico, mas uma dinâmica com bandeira, adquirente, emissores, etc) enquanto as fintechs, que estão em verdadeira ebulição no país, correm por fora e vão aos poucos alterando hábitos da população e introduzindo modelos de negócio mais desintermediados.
Bogotá já é o terceiro maior hub de fintechs da América Latina, atrás somente de São Paulo e Cidade do Mexico. Rappi é uma empresa colombiana e o fundador do Nubank também.
Estive no evento Latam Fintech Market e pude sentir na pele a energia do setor por lá. Toda uma indústria está nascendo com força, assim como ocorreu aqui há poucos anos e hoje já colhemos os frutos.
Um dos fatores que colabora para isso é o posicionamento dos órgãos reguladores colombianos, que visa gerar inclusão financeira através da competitividade do setor. Nesse sentido, criaram recentemente um modelo parecido com o das nossas Instituições de Pagamento (IPs), que por lá se chamam SEDPEs (Sociedades Especializadas en Depósitos y Pagos Electrónicos).
Como esse advento é muito mais recente do que no Brasil, ainda existem pouquíssimas empresas operando nesse modelo, mas há inúmeros processos de abertura e o apetite dos empreendedores e investidores é bem alto.
Em suma, a Colômbia está no início de uma grande transformação social e econômica através da consolidação do seu sistema de pagamentos e da inclusão financeira de sua população. E na Dock, estamos trabalhando a todo o vapor para iniciar nossa atuação no país e ansiosos para começar a criar meios para mover a sociedade colombiana e latino-americana.