Moedas digitais de bancos centrais: o que é CBDC e os principais projetos pelo mundo

Publicado em 14 out 2021.

Tempo de leitura 12 minutos de leitura

Você vem acompanhando o avanço na pauta das moedas digitais de bancos centrais? As CBDCs (Central Bank Digital Currencies) estão em discussão em mais de 60 países, segundo a pesquisa da PwC CBDC Gobal Index. E nós estamos acompanhando essa transformação de perto por aqui!

Esse é um movimento iniciado por volta de 2014 e que agora, na medida em que alguns projetos estão sendo implementados, se acelera ainda mais. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Fórum Econômico Mundial são algumas das entidades que debatem de forma recorrente como esses ativos podem ser utilizados para contribuir para a inclusão financeira, para a redução da circulação de papel moeda e para a diminuição dos crimes relacionados a fraudes financeiras.

Nesse artigo, compartilhamos o que há de mais relevante sendo dito no Brasil e em outros países sobre o avanço das moedas digitais dos bancos centrais. Confira!

 

O que é CBDC?

CBDC, como mencionamos anteriormente, vem da sigla para Central Bank Digital Currency. Ou seja, traduzindo para português, são moedas digitais criadas por bancos centrais.

A maioria delas utiliza a tecnologia blockchain e, por esse e outros motivos, existem semelhanças com as criptmoedas (como bitcoin e etherum, por exemplo). Contudo, há diferenças essenciais entre  elas: as criptomoedas se caracterizam como um ativo descentralizado (não há a figura de um emissor) e não-regulado, o que as torna muito mais voláteis e com nível de governança menor do que a de moedas digitais de bancos centrais, que, por sua vez, têm a figura de um emissor e são reguladas.

A CBDC, portanto, seria uma nova forma de representação da moeda que já emitida pelas autoridades monetárias na forma de cédulas, porém em formato digital.

 

Tipos de moedas digitais desenvolvidas por bancos centrais

Nos projetos que já avançam pelo planeta – e sobre os quais falaremos logo mais, existem dois tipos possíveis para uma CBDC:

  • As moedas digitais que podem ser adquiridas por cidadãos ou empresas como um dinheiro digital complementar às cédulas; e que podem ser guardadas e transacionadas por meio de plataformas digitais;
  • As que podem ser usadas apenas em operações interbancárias. Ou seja, seu uso é restrito a instituições financeiras.

Entre os projetos que se enquadram na primeira categoria, 23% já atingiram a fase de implantação, aponta o levantamento da PwC. Esses projetos estão mais avançados em economias emergentes, já que o benefício da inclusão financeira é muito maior.

Já entre os projetos de CBDCs cujo uso é voltado para transações interbancárias, 70% ainda estão rodando pilotos. O foco desses projetos são países nos quais os sistemas bancário e financeiro são mais desenvolvidos.

Nesse artigo, iremos nos concentrar nas moedas digitais que estão sendo criadas por bancos centrais para uso de toda a população, como um dinheiro digital – portanto, a maior parte em economias em desenvolvimento. 

Quais são as moedas digitais de bancos centrais que estão surgindo pelo mundo?

Entre os mais de 60 países e regiões que estão evoluindo seus projetos de CBDC, existem diferentes níveis de maturidade quanto à implementação e, como acontece em relação a outras pautas (tais quais Open Banking e Sistema de Pagamentos Instantâneos), há particularidades em cada um deles.

Abaixo, vamos listar alguns dos projetos mais relevantes e promissores neste momento, assim como a movimentação dos países latino-americanos para a adoção de moedas digitais emitidas por bancos centrais.

 

Brasil: o avanço da pauta do Real Digital

Como parte da agenda do Bacen para modernização do sistema financeiro brasileiro, o Real Digital deve contribuir para a internacionalização da economia do país e para fortalecer ainda mais o Pix. A moeda será um token e irá facilitar novos negócios na economia digital.

  • As primeiras diretrizes do projeto Real Digital foram divulgadas em maio de 2021 e o projeto piloto deve ser iniciado em 2022;
  • O Real Digital servirá para pagamentos instantâneos, como o Pix;
  • A moeda terá sigilo bancário, estímulo a pagamentos na internet das coisas (IoT) e contratos inteligentes. Também poderá operar em conjunto com moedas digitais de outros países.

 

Quer entender melhor o potencial do Real Digital? Assista a esse webinar realizado pelo Bacen:

 

CBDC da China: Yuan Digital já está em etapa final de testes

O projeto do Yuan Digital (DCEP, na sigla em inglês), está em nível avançado de testes, sendo a China é um dos países mais adiantados na pesquisa sobre moedas digitais: iniciou o projeto em 2014 – concomitantemente à repressão do governo chinês ao uso de criptomoedas.

  • Em abril de 2020, o país se tornou a primeira grande economia a iniciar um projeto de moeda digital;
  • O projeto piloto foi conduzido em quatro grandes cidades do país, localizadas em diferentes regiões: Pequim, Xangai, Shenzhen e Jingjinji;
  • O Yuan Digital é emitido pelo Banco Nacional da China aos bancos comerciais que atuam no país, que por sua vez distribuem a moeda à população;
  • Até outubro de 2021, já foram transacionados mais de 5 bilhões de Yuan em formato digital, cerca de 700 milhões de dólares;
  • A expectativa é que a CBDC chinesa ajude a alavancar um promissor setor de serviços financeiros digitais;
  • O uso da moeda digital deve ser ampliado nas Olimpíadas de Inverno de Beijing, em 2022.

 

Uruguai: líder na pauta de CBDC no mundo, porém sem planos concretos anunciados

O Uruguai é o único país da América Latina a figurar entre os projetos de CBDC mais avançados globalmente, com um projeto piloto bem-sucedido, realizado entre 2017 e 2018. Na época, nenhum outro país do mundo havia iniciado projetos de moedas digitais com tokens para consumidores.

  • O projeto piloto durou seis meses e definiu limites de emissão: 20 milhões de dólares para 10 mil usuários de celulares, limitado a 30 mil dólares por carteira e 200 mil dólares para negócios registrados no projeto;
  • A iniciativa uruguaia de moedas digitais utilizou um sistema próprio em vez do blockchain;
  • O e-peso foi desenhado para ser anônimo, mas rastreado, o que pode evitar gastos em duplicidade e falsificação;
  • Não há informações de que tenha havido incidentes durante o projeto piloto. Mas, desde que ele foi finalizado, em abril de 2018, o Banco Central do país não investiu mais no projeto ou anunciou próximos passos para seu lançamento;
  • O banco central do Uruguai, contudo, ainda considera emitir o e-peso em larga escala para a população.

 

Bahamas: Sand Dollar é o mais desenvolvido globalmente entre as moedas digitais de bancos centrais

O projeto do Sand Dollar, CBDC das Bahamas, é o mais desenvolvido globalmente e surgiu para facilitar a inclusão financeira nas cerca de 30 ilhas habitadas do arquipélago.

  • Seu piloto foi iniciado em dezembro de 2019 e a moeda digital foi oficialmente lançada em outubro de 2020;
  • O Sand Dollar pode ser adquirido por todos os residentes do país em instituições financeiras credenciadas. A CBDC do país é guardada em carteiras digitais incluídas em apps ou em cartões físicos;
  • Informações sobre ganhos e gastos dos usuários podem ser utilizadas como base para operações de microcrédito.

 

Veja o vídeo para saber como o Sand Dollar vem transformando a vida nas Bahamas diante de desafios como a Covid-19 e desastres naturais:

Nigéria: e-Naira coloca país africano na vanguarda das CBDCs

O Banco Central da Nigéria anunciou o lançamento da sua moeda digital e-Naira no dia 25 de outubro de 2021. O objetivo é aumentar a eficiência nos pagamentos transfronteiriços, aumentar a inclusão financeira, facilitar as remessas e reduzir a informalidade.

A e-Naira fez com que a Nigéria se tornasse um dos primeiros países a lançar sua própria CBDC.

Chile: primeiros passos para emitir Peso Digital?

Em setembro de 2021, o Banco Central chileno anunciou que será definida no início de 2022 uma estratégia para emissão da CBDC do país –  o que ainda não está confirmado.

  • Caso prossiga com o projeto, a expectativa é contribuir para estabilidade e efetividade da política monetária chilena;
  • O grupo de trabalho que estuda uma possível proposta de CBDC está focado em avaliar, entre outros temas, os riscos relacionados a fraudes financeiras;
  • O grupo de trabalho que estuda uma possível proposta de CBDC está focado em avaliar, entre outros temas, os riscos relacionados a fraudes financeiras;
  • O setor financeiro do Chile é considerado um dos mais estáveis da América Latina, e caso a pauta avance, sem dúvidas contribuirá com boas práticas para projetos de moedas digitais de outros países da região.

México: Banxico prevê lançamento de moeda digital em 2024

O Banco Central do México (Banxico) anunciou recentemente que pretende colocar a sua moeda digital em circulação em 2024. Para isso, está trabalhando no desenvolvimento de uma plataforma de implantação baseada na infraestrutura de compensação e liquidação já existente no SPEI, o sistema de pagamentos eletrônicos mexicano.

Já se sabe também que não será uma criptomoeda baseada no blockchain, mas, sim, uma versão digital da moeda mexicana. Ao lançar a sua CBDC, a instituição pretende contribuir para a inclusão financeira no país, com uma maior possibilidade de abertura de conta para bancarizados e não bancarizados, e ampliar o uso de soluções de pagamento rápidas, seguras e interoperáveis.

Além disso, o seu objetivo é ter um ativo versátil que fomente a inovação e permita a implementação de diferentes funcionalidades, como mecanismos de automação.

Outras iniciativas de moedas digitais de bancos centrais pelo mundo

Além dos casos que citamos, diversos outros países também têm projetos de moedas digitais próprias e, nos próximos anos, devemos assistir ao lançamento dessas CBDCs.

Confira no gráfico abaixo as iniciativas mais evoluídas, de acordo com o PwC CBDC Global Index:

CBDC: principais projetos de moedas digitais pelo mundo - dock

10 proyectos de CBDC más avanzados del mundo

  1. Bahamas
  2. Camboya
  3. China
  4. Ucrania
  5. Uruguay
  6. Ecuador
  7. Caribe Oriental
  8. Suecia
  9. Corea del Sur
  10. Turquía

Top 10 most evolved CBDC projects globally

  1. The Bahamas
  2. Cambodia
  3. China
  4. Ukraine
  5. Uruguay
  6. Ecuador
  7. Eastern Caribbean
  8. Sweden
  9. South Korea
  10. Turkey

 

Projetos de CBDC fazem parte do caminho para o futuro de pagamentos e banking

Embora haja questões específicas de cada região, o objetivo principal dos governos ao criarem suas moedas digitais é tornar o mercado financeiro mais eficiente.

Com isso, surgem grandes benefícios para as economias como:

  • Garantir transações mais seguras;
  • Promover a bancarização;
  • Promover a bancarização;
  • Reduzir custos de emissão de moeda física;
  • Incentivar a inovação em meios de pagamento e serviços financeiros;
  • Incentivar a inovação em meios de pagamento e serviços financeiros;
  • Estimular a criação de modelos de negócios nos mais variados mercados;
  • Possibilitar a entrada de novos players no mercado;
  • Aumentar a eficiência das transações transfronteiriças;
  • Propiciar a programabilidade do sistema de pagamentos e liquidação;
  • Reduzir o ticket médio de transações financeiras;
  • Ampliar a eficiência dos pagamentos de varejo e atacado.

Na Dock estamos acompanhando de perto essa transformação e fazendo a nossa parte para tornar as transações financeiras mais simples, orgânicas e sem amarras!

 

Resumo moedas digitais: iniciativas de CBDC avançam pelo mundo

  • CBDC é a sigla para Central Bank Digital Currency. Na tradução para português, moeda digital de banco central.
  • Existem diversos ganhos para as economias com a emissão de CBDCs, como promoção da inclusão financeira, redução do custo das transações e redução das fraudes financeiras.
  • A pauta das moedas digitais de banco central avança pelo mundo, com alguns países já utilizando sua CBDC, como as Bahamas, e outros em etapas avançadas de testes, como a China.
  • Na América Latina, o Uruguai foi pioneiro em projeto de CBDC e o Brasil avança na discussão do Real Digital, que deve ser implementado em 2022.

 

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