Web3: entenda o que é e quais mudanças ela pode trazer para o mercado financeiro

Publicado em 28 mar 2023.

Tempo de leitura 12 minutos de leitura

A Web 3.0 surgiu a partir do mundo das criptomoedas, mas é muito mais extensa e complexa do que isso. Você sabe como funcionará o próximo estágio da Internet e o que podemos esperar dele?

Apesar da evolução representada pela Web2, sua alta conectividade e interatividade começaram a cobrar um preço alto dos usuários. Ao fornecer suas informações em troca de maior comodidade no uso da rede, os usuários ficam suscetíveis ao vazamento ou venda de seus dados pessoais.

Além disso, os criadores de conteúdo dependem das grandes plataformas para entrega dos seus produtos/serviços, ao mesmo tempo que possuem ingerência limitada sobre o volume de tráfego gerado e, consequentemente, sobre suas receitas.

De maneira geral, a sociedade vem demandando mais proteção e autonomia em relação aos dados controlados pelas Big Techs. Assim, a procura por uma tecnologia que possibilite a navegação sem a dependência de intermediários foi crescendo. O desejo inicial de manutenção dos dados descentralizados, que estava presente na versão Web 1, foi reacendido.

Somado a esse crescente descontentamento, o surgimento do mercado de criptomoedas potencializou a criação da Web3. Mas, é importante notar que ela não é apenas a evolução da Web2. Trata-se de uma tecnologia disruptiva, com outra estrutura, parâmetros de funcionamento e stakeholders. E ela vai mudar completamente a maneira de fazer negócios ao redor do planeta. Acompanhe para saber mais!

 

Histórico da Web até o surgimento da Web3

 

Para entender a magnitude da revolução trazida pela Web3, é preciso reconhecer o que foi a Web1 e a atual Web2:

  • Web1 (1991 a 2004): composta basicamente por páginas estáticas, estruturadas em hiperlinks. Sua função era focada em leitura de conteúdos, com pouca interação entre os usuários.
  • Web2 (2004 – atual): tráfego centralizado a partir de megaplataformas como Google, Facebook e outras redes sociais que permitem alta interação entre os usuários. As grandes corporações captam e detêm a informação para oferecer experiência customizada de navegação e monetizá-la para venda de anúncios.

 

A Web3 e as criptomoedas

 

É essencial entender como essa nova Web se relaciona com as criptomoedas. E aqui vale mencionar que, embora elas tenham possibilitado a criação da Web3, os dois conceitos não se confundem.

  • Criptomoedas são moedas digitais criptografadas, sem representação física e regulamentação governamental, que se baseiam no blockchain – tecnologia lançada em 2008 pelo Bitcoin.
  • Web3, em resumo, é um ambiente virtual, um ecossistema cujas engrenagens de funcionamento dependem da tecnologia blockchain e no qual todas as operações são realizadas em criptomoedas. A seguir aprofundaremos esse conceito.

Apesar da íntima relação entre as duas, não há previsão alguma que o atual “inverno cripto”, com queda significativa no valor das criptomoedas, atrase o desenvolvimento da nova internet. Empresas ao redor do mundo, inclusive grandes corporações como o Google, têm investido massivamente no progresso da Web3. A chamada “economia cripto” ainda é responsável por movimentar 1,2% do PIB mundial. Em valores monetários, isso equivale a cerca de 1,1 trilhão de dólares.

 

Leia também | Crypto as a Service: motor para destravar as soluções financeiras com criptomoedas?

 

 

Mas, afinal, o que é Web3?

 

Infográfico explicando sobre a Web 3 com ícones de cubos conectados por linhas
Infográfico explicando sobre a Web 3 com ícones de cubos conectados por linhas
Infográfico explicando sobre a Web 3 com ícones de cubos conectados por linhas

 

O termo Web3 foi criado em 2014 por Gavin Wood, um dos cofundadores da criptomoeda Ethereum. Trata-se da 3ª geração da internet que não representa apenas uma simples evolução da versão anterior, mas sobretudo um modelo de negócios completamente inovador.

O conceito de Web3 foi criado para fazer referência a um ambiente digital baseado no uso de tecnologia blockchain e inteligência artificial. Neste ambiente, a propriedade dos dados volta a ser descentralizada, garantindo transparência e segurança às informações.

Dentro da realidade Web2, imaginar uma tecnologia completamente diferente não é algo simples. Para facilitar o entendimento, listamos abaixo algumas características basilares da Web3:

 

Estrutura de registro baseada em blockchain

O modelo “cadeia de blocos” é utilizado para o registro imutável de transações e rastreamento de ativos na rede.

 

Informação descentralizada

Os dados ficam armazenados numa espécie de livro de registro público na rede, sem manipulação ou controle de qualquer agente.

 

Tecnologia “peer-to-peer” (P2P)

A tecnologia peer-to-peer possibilita o intercâmbio de recursos de igual para igual, de maneira direta entre vários usuários, eliminando a necessidade de intermediários e a dependência de grandes plataformas.

 

Maior segurança

A nova tecnologia impossibilita a ocorrência de fraudes, invasões e produção de “fake news”. Todo fluxo de informação tem registro único e rastreável.

 

Internet mais igualitária

Acesso democrático à informação, maior transparência e autonomia para criação de conteúdo e realização de transações.

 

Leia também | Inclusão financeira e prevenção de fraude: como a segurança em pagamentos contribui para o avanço?

 

Como funciona a Web3?

 

O funcionamento da Web3 é viabilizado pela existência de tecnologias modernas além daquelas já mencionadas: blockchain e inteligência artificial. Confira algumas das principais:

  • Carteiras digitais: são responsáveis pelo armazenamento de dados e chaves únicas dos usuários que comprovam a posse dos ativos digitais. É através da sua carteira digital que o usuário pode interagir com os smart contracts e tokens.
  • Tokens: é a representação digital dos ativos na Web3, seja em valor monetário ou posse de direitos. Os tokens podem também representar ativos físicos existentes no mundo real ou não.
  • Smart Contracts (contratos inteligentes): são programas de computador que rodam em redes de blockchain para determinar o comportamento dos tokens. Permitem a criação de softwares complexos para transações de tokens, projetos NFTs etc.

 

Quais as tendências que a Web3 traz para o mercado de pagamentos e banking?

 

Embora a Web3 esteja em desenvolvimento acelerado, a previsão é que a migração da Web2 ainda leve alguns anos para ser concluída. Até lá, vamos testemunhando com frequência cada vez maior algumas tendências relacionadas à 3ª geração da internet. Conheça as principais em termos de impacto para o mercado de meios de pagamento que já podemos verificar hoje:

 

Substituição dos agentes fiduciários por DeFi

DeFi são programas de computador que funcionam como protocolos para substituir a atuação dos atuais agentes fiduciários. Através destes protocolos, haverá menor necessidade de intermediários nas transações de ativos, que passam a ser feitas diretamente entre participantes.

 

Infográfico sobre Finanças Descentralizadas com ícones universo financeiro como moedas, símbolos monetários, gráficos, máquina de cartão
Infográfico sobre Finanças Descentralizadas com ícones universo financeiro como moedas, símbolos monetários, gráficos, máquina de cartão
Infográfico sobre Finanças Descentralizadas com ícones universo financeiro como moedas, símbolos monetários, gráficos, máquina de cartão

Tokenização do mercado

Ativos como debêntures ou imóveis, por exemplo, passam a ser representados por tokens que podem ser fracionados em várias partes. A possibilidade de transacionar frações dos seus ativos, sem intermediários, reduz a necessidade de recorrer ao mercado de capitais ou ao mercado bancário para obter recursos.

 

Negociação de NFTs ou tokens não fungíveis

As transações de NFTs já permitem que artistas e criadores de conteúdo, por exemplo, alcancem diretamente seu público, sem dependência de plataformas para entrega e intermediários para realização de vendas. Grandes marcas como a Nike já estão experimentando o modelo.

 

Experiências imersivas no metaverso

O metaverso, além de representar o mundo físico no ambiente digital, ainda traz a possibilidade de subtrair suas limitações e agregar todas as ferramentas digitais proporcionando um verdadeiro mergulho dentro da internet.

A tendência é que essa experiência totalmente imersiva revolucione a maneira de interagir, criar, comprar e realizar operações financeiras.

 

Novo formato de organização em DAOs

A sigla DAO significa “Organização Autônoma Descentralizada”, em inglês. Na prática, nada mais é do que organizações regidas por smart contracts, com regras previamente estabelecidas, registradas em blockchain, e por isso, transparentes e imutáveis.

Este novo formato de organização, seja para a formação de sociedade em um novo empreendimento, ou para dedicação a um propósito/projeto específico, permite uma menor hierarquização. Não há necessidade de um gestor, por exemplo, se todas as regras do negócio, inclusive no que envolve decisões de tesouraria, já estão previstas no contrato inteligente.

Trata-se de uma organização controlada por seus membros, sem influência de uma administração central. Qualquer modificação no código precisa ser feita mediante votação de todos os participantes da DAO, de forma democrática.

 

Leia também | Identidade digital: a chave para o sistema financeiro do futuro?

 

E o futuro com a Web3, como será?

 

Assim como na década de 50 era difícil imaginar o que seria o advento da internet e quais impactos traria para a vida das pessoas em todas as partes do planeta, hoje ainda é um desafio entender em detalhes como será o futuro a partir da Web3.

Afinal, nem todos os novos modelos de negócio que serão criados a partir da utilização da Web3 são conhecidos hoje. As possibilidades a serem exploradas são inúmeras.

Para vislumbrar algumas delas, o relatório Web3 da 11FS traz exemplos interessantes. Dentre eles, destacamos alguns dos possíveis usos da nova internet:

  • Um usuário qualquer poderá conceder ou pegar empréstimos diretamente de outro usuário, sem intermediação de instituições financeiras. Para isso, utilizarão tokens e smart contracts para registro de todas as regras da transação.
  • Produtos únicos e inovadores, que só existem no mundo digital, poderão ser negociados e acessados exclusivamente pelo dono da respectiva NFT. Acesso a uma peça de arte ou entrada num evento de audiência muito restrita e selecionada no metaverso, por exemplo.
  • Invenção de novas fontes de renda a partir da criação e comercialização de bens e serviços que só existem no metaverso. Desdobramento em novas cadeias produtivas, demandas por novas skills e atividades de capacitação.
  • Lançamento de empreendimentos inovadores a partir da livre associação em DAOs, com membros de toda parte do mundo que sequer se conhecem no mundo real.
  • Interação imersiva dentro da realidade do metaverso, seja para relações de trabalho ou pessoais. Indivíduos poderão considerar, por exemplo, a possibilidade de adquirir um imóvel virtual em determinada localidade do metaverso que permita conviver numa comunidade com interesses em comum.

 

Veja também: webinar sobre Web3

 

Se você ainda ficou em dúvidas sobre a Web3, confira o vídeo do webinar sobre o tema, que rolou no FEBRABAN Tech 2022.

Durante o evento, Denis Nakazawa, Managing Director na Accenture, falou sobre o próximo estágio da Internet, do qual os ativos digitais, as finanças descentralizadas e o metaverso são importantes elementos:

 

Web3: o que você viu neste artigo?

 

  • A procura por uma tecnologia que possibilite a navegação sem a dependência de intermediários e a descentralização dos dados motivaram a criação de uma nova web.
  • A Web1 era muito focada em conteúdo, com pouca interação entre os usuários, enquanto a Web2 tem o tráfego centralizado a partir de megaplataformas que permitem alta interação.
  • A Web3 deverá ser um ambiente digital baseado no uso de tecnologia blockchain e inteligência artificial, no qual a propriedade dos dados volta a ser descentralizada.
  • Além dessas duas características, a nova web tem outras como a tecnologia “peer-to-peer”, uma maior segurança e a possibilidade de uma Internet mais igualitária.
  • O seu funcionamneto se dá por meio de carteiras digitais, tokens e smart contracts;
  • A substituição dos agentes fiduciários por DeFi, a tokenização do mercado e a negociação de NFTs ou tokens não fungíveis são algumas tendências que a Web3 traz para o setor financeiro no futuro.

 

Artigos relacionados:

 

Quer ficar por dentro das últimas novidades no mercado de pagamentos e digital banking?

Inscreva-se na nossa newsletter mensal
Email enviado Inscrição realizada! OK
Entre em contato