Educação financeira: qual é o papel do mercado de pagamentos e banking em promovê-la?

Publicado em 11 abr 2023.

Tempo de leitura 12 minutos de leitura

Na América Latina, a falta de educação financeira faz com que um gigantesco mercado consumidor permaneça inexplorado e excluído.

São milhões de potenciais clientes que desconhecem conceitos básicos para diagnóstico sobre sua realidade financeira e compreensão das soluções disponíveis no mercado. Por isso, qualquer estratégia de crescimento sustentável na região passa, necessariamente, pelo combate ao “analfabetismo financeiro”. E como o mercado de meios de pagamento e banking deve atuar para contribuir com essa transformação?

Neste artigo, vamos explorar melhor a importância da promoção da educação financeira na América Latina e como ela pode impactar o setor e a sociedade. Afinal, inclusão financeira não se faz apenas com acesso à internet e contas digitais. Confira!

 

O que é educação financeira?

 

De acordo com a definição da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), educação financeira é:

“o processo pelo qual consumidores/investidores financeiros aprimoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros e, por meio de informação, instrução e/ou aconselhamento objetivo, desenvolvem as habilidades e a confiança para se tornarem mais conscientes de riscos e oportunidades financeiras, a fazer escolhas informadas, a saber onde buscar ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para melhorar seu bem-estar financeiro.”

A educação financeira, portanto, não deve se limitar apenas ao papel de conscientização do público. Ela deve auxiliar no aprofundamento da compreensão de cada indivíduo sobre sua situação concreta, seu momento de vida e suas opções.

Esta educação financeira, então, só pode ser alcançada através da cooperação de todos os atores do mercado. É preciso unificar esforços das instituições financeiras, dos reguladores, dos pesquisadores e dos especialistas em educação, além de todos os outros players que ofertam soluções financeiras por meio de embedded finance, por exemplo.

 

Educação financeira na América Latina: longo caminho a percorrer

 

A exemplo do que aconteceu no Brasil, com a bancarização de cerca de 40 milhões de pessoas para recebimento do auxílio emergencial durante a pandemia de Covid-19, outros países da América Latina também testemunharam um importante avanço na inclusão financeira dos seus habitantes neste período.

A necessidade de distanciamento social acabou por promover o uso da internet para transações financeiras e comerciais, estimulando o surgimento de novos meios de pagamento digitais.

Porém, na contramão do excelente resultado em inclusão financeira e digital, o “analfabetismo financeiro” de parcela significativa da população ficou ainda mais evidente. Afinal, o acesso às contas bancárias por si só não provê o conhecimento necessário para uso correto dos recursos oferecidos.

 

Analfabetismo financeiro no mundo e na América Latina

 

A Pesquisa Internacional de Alfabetização Financeira de Adultos realizada em 2020 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) analisou índices relacionados à educação financeira em 26 países.

O resultado mostrou que, de modo geral, o analfabetismo financeiro é uma realidade em todo o globo. Os estudiosos analisaram um conjunto de habilidades, comportamentos e atitudes financeiras básicas. A pontuação máxima (21) indicaria que o indivíduo tem um nível básico de compreensão dos conceitos financeiros e aplica alguns princípios em suas transações.

A média global encontrada foi de apenas 12,7 pontos, o que representa menos de 61% da pontuação máxima de alfabetização financeira. Assim, o estudo sugere que há espaço – e, na verdade, necessidade – para/de melhoria em todos os aspectos da educação financeira.

Os dois países latino-americanos participantes do estudo foram a Colômbia e o Peru, que apresentaram, respectivamente, índices de “financial literacy” de 11,2 e 12,1, ou seja, abaixo da média geral.

O desafio a ser enfrentado na região é latente. Embora a bancarização na América Latinha tenha avançado, e muitas pessoas já possuam acesso à internet e smartphones, a falta de conhecimento financeiro básico impede o uso responsável dos serviços e a consequente verdadeira inclusão financeira.

 

Por que investir em educação financeira? 

 

E, afinal, por quais motivos é preciso colaborar para promover o letramento financeiro na região? Existem 3 razões principais:

 

Promoção do crescimento econômico

 

De acordo com o documento de Recomendação sobre os Princípios e as Boas Práticas de Educação e Conscientização Financeira, produzido pelo Centro OCDE/CVM, a educação financeira é uma ferramenta essencial de promoção do crescimento econômico, confiança e estabilidade de um país.

É preciso haver indivíduos financeiramente instruídos para assegurar níveis suficientes de proteção do investidor e do consumidor, bem como o bom funcionamento não só do mercado financeiro, mas também da economia como um todo.

Por esta razão, o Centro orienta que a educação financeira seja considerada um pilar no arcabouço regulatório e administrativo das instituições.

 

Estímulo à captação de renda extra

 

Dentre as muitas lições dolorosas trazidas pela pandemia de Covid-19, na agenda da educação financeira veio o aprendizado sobre a necessidade de se ter uma reserva financeira para fazer frente a imprevistos e sazonalidades do mercado.

Embora a enorme desigualdade social e o baixo nível de renda de parcela significativa da população latino americana seja um obstáculo ao estímulo à economia de recursos, a educação financeira pode auxiliar no desenvolvimento do empreendedorismo para captação de renda extra.

Em especial entre mulheres, pessoas de baixa renda e baixo nível educacional, é preciso promover uma maior conscientização sobre orçamento pessoal e ferramentas financeiras úteis para melhoria da relação entre estes consumidores e seu dinheiro.

 

Leia também | Inclusão financeira e prevenção de fraude: como a segurança em pagamentos contribui para o avanço?

 

Melhoria da saúde financeira da população

 

Para avaliar o índice de saúde financeira dos brasileiros, o Banco Central do Brasil e a Febraban realizaram uma pesquisa em 2021 com 5 mil entrevistados. Os resultados foram preocupantes.

Dentre os participantes, 70% disseram gastar mais do que ganham. Quase 60% admitiram que as finanças são um constante motivo de estresse. Apenas 34% dos entrevistados se acharam capazes de tomar boas decisões financeiras.

Há, portanto, um enorme espaço para atuação dos reguladores e instituições (sejam bancos, fintechs ou empresas que ofertam serviços financeiros) na melhoria da saúde financeira e prevenção do superendividamento dos latino americanos.

 

Acelerando a inclusão: papel do mercado de pagamentos e banking na promoção da educação financeira

 

Diversos estudos, entidades e especialistas recomendam o envolvimento (e por que não o protagonismo?) dos negócios que oferecem produtos financeiros no incentivo à educação financeira. Mas como isso pode se dar na prática? Veja alguns exemplos citados em painel realizado no FEBRABAN TECH 2022:

 

Uso de dados e inteligência artificial

 

O volume de dados disponível para as empresas que atuam no mercado de banking e meios de pagamento está cada vez maior. Movimentos como o Open Finance e Open Banking reduziram a barreira de acesso a informações chave de cada consumidor.

Essa vantagem informacional pode ser estrategicamente utilizada para educar o público. Muito mais do que os reguladores e instituições de ensino, os negócios do setor têm condições de identificar o momento de vida de cada cliente.

De acordo com o especialista em educação financeira Eduardo Amuri, atualmente algumas empresas já fazem uso de inteligência artificial para levar informações e sugestões personalizadas em seu apps, de acordo com o mapeamento da necessidade daquele indivíduo durante um período específico.

 

Uso da estrutura de atendimento físico

 

Especialmente no caso da população de mais baixa renda e nível educacional, e entre a população idosa, o uso do atendimento presencial para descomplicar a utilização digital dos serviços e produtos financeiros é muito importante.

Por exemplo, um dos bancos com maior capilaridade no Brasil, a Caixa, tem feito uso das suas representações físicas para oferecer atendimento focado em mulheres. Um espaço de acolhimento e aconselhamento financeiro.

Embora o acesso à internet esteja popularizado, é inegável que o atendimento presencial tem papel importante para gerar segurança na transição pro digital. Esta infraestrutura pode ser também um recurso diferenciado para promoção da educação financeira da população. Além disso, com o avanço do 5G, haverá a possibilidade de levar para o digital de forma mais concreta a pessoalidade hoje encontrada pelos clientes na agência física, com atendimento humano e em tempo real.

 

Uso de comunicação transparente e personalizada

 

As empresas de banking e meios de pagamento podem usufruir dos dados dos seus consumidores e investidores para criar uma estratégia de comunicação customizada de acordo com cada perfil.

Entretanto, esta comunicação não deve ser voltada para vendas. É hora das empresas investirem na criação de um canal de informação transparente, clara e simplificada que contribua para seu letramento financeiro.

O público digital tende a rejeitar informações complexas e instruções pouco claras sobre produtos e serviços. Por isso, tecer uma relação de confiança é essencial para fidelização de novos clientes.

 

Assista na íntegra o painel sobre cidadania financeira realizado durante o FEBRABAN TECH:

 

Impactos da educação financeira para a inclusão financeira

 

Quando falamos em educação e inclusão financeira, precisamos trazer à tona também outro termo: a chamada “cidadania financeira”, que se apoia em 4 pilares principais:

  • inclusão financeira
  • proteção do consumidor
  • participação do cidadão na evolução do setor financeiro
  • educação financeira

Embora a pandemia tenha contribuído para que muitos cidadãos antes considerados “invisíveis” tenham finalmente iniciado um relacionamento com bancos, a bancarização não significa inclusão.

A maior parte das pessoas, ainda que já possua uma conta digital, desconhece as ferramentas básicas para avaliação da sua saúde financeira, elaboração do seu orçamento pessoal e utilização responsável dos serviços.

Investir em educação financeira, portanto, significa solidificar as bases de conhecimento necessárias para tomadas de decisões financeiras com segurança, criando oportunidades de geração de renda e maior estabilidade econômica para o país.

 

Repercussão no mercado de pagamentos e banking

 

O sentimento de desconfiança que domina as atuais decisões dos “analfabetos financeiros” acaba por atrasar a adesão a meios de pagamento mais modernos. Tamanho obstáculo amortece os impactos positivos da inovação trazida pelo avanço tecnológico.

Sem colaborar com a educação financeira dos seus usuários, produtos e serviços financeiros inovadores tendem a ser subutilizados ou utilizados incorretamente. Quanto maior o conhecimento do público na matéria, mais preparado ele estará para recepcionar e usufruir das novidades do mercado.

Na Dock acreditamos que este é o momento ideal para educar os consumidores e investidores, não apenas como forma de atração e fidelização de novos clientes, mas principalmente como forma de contribuir para um mercado mais próspero e estável.

 

Quer saber um pouco mais sobre nossa visão? Assista à entrevista de nosso CEO, Antonio Soares, sobre democratização do acesso a serviços financeiros:

 

 

Educação Financeira: o que você viu nesse artigo? 

 

  • A real educação financeira não se limita à conscientização do público sobre os produtos e serviços financeiros, mas passa também por auxiliar a compreensão da sua própria realidade, momento de vida e desafios. Para isso, é preciso haver cooperação de todos os agentes do mercado.
  • Bancarização da população não é sinônimo de educação financeira. Mesmo com acesso a bancos e meios de pagamento mais modernos, o analfabetismo financeiro prevalece na América Latina, trazendo um importante obstáculo para o avanço.
  • Investir em educação financeira significa promover crescimento e estabilidade econômica, estimular a captação de renda extra e contribuir para saúde financeira da população.
  • O mercado de banking e meios de pagamento pode contribuir com a educação financeira em 3 principais frentes: uso do atendimento físico para orientação, uso intensivo de dados para compreensão da realidade do cliente e customização da estratégia de comunicação para levar informação.
  • A educação financeira impacta na verdadeira inclusão financeira, que vai além da bancarização da população. Envolve também o fortalecimento dos mecanismos de proteção ao consumidor e sua maior participação na evolução do mercado. Um público financeiramente educado tem maiores condições de usufruir das inovações no mercado de banking e meios de pagamento.

 

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