A transformação digital no setor financeiro acelerou de forma irreversível nos últimos anos. O que antes era diferencial, hoje é requisito: clientes exigem experiências digitais ágeis, seguras e disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. Para atender a essa nova realidade, bancos, fintechs e empresas que oferecem serviços financeiros estão reestruturando profundamente suas infraestruturas tecnológicas e optando por uma estratégia multicloud.
Em um ambiente em que a confiança, a segurança e a continuidade operacional são fundamentais, a capacidade de distribuir serviços, processar grandes volumes de dados em tempo real e inovar com agilidade passou a depender diretamente da infraestrutura adotada. Nesse contexto, a multicloud se apresenta como um dos pilares fundamentais de tecnologia desse novo ciclo de crescimento e competitividade, em especial no setor financeiro.
Segundo uma pesquisa de amplitude global da Oracle com a 451 Research, 98% das empresas já utilizam ou planejam adotar uma abordagem multicloud em suas operações.
No mercado brasileiro de serviços financeiros, os números são igualmente expressivos. De acordo com a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, a migração para sistemas em nuvem já é uma realidade para todas as instituições financeiras, com investimento previsto de R$ 3,13 bilhões em migrações para essa infraestrutura tecnológica, um aumento de 59% perante 2024.
Em função da sua crescente relevância para o setor, este foi um dos temas da programação especial da Dock durante o Febraban Tech 2025, no workshop “Multicloud, múltiplos desafios: disponibilidade e resiliência como diferenciais competitivos”, com Thiago Teixeira, CTO Dock, Arthur Azevedo, Diretor de Engenharia de Software da Dock, e Alexandre Biancalana, Partner & IT Executive do C6 Bank.
Neste artigo, abordaremos insights do painel no Febraban Tech e também os fundamentos da arquitetura multicloud. Além disso, trataremos das diferenças em relação à cloud híbrida, dos principais benefícios para instituições financeiras e dos desafios técnicos e operacionais de sua adoção. Por fim, ainda mostraremos como a Dock utiliza essa estratégia para escalar soluções com segurança, performance e inovação.

Alexandre Biancalana, Partner & IT Executive do C6 Bank, Arthur Azevedo, Diretor de Engenharia de Software da Dock, e Thiago Teixeira, CTO Dock, após o painel no Febraban Tech.
O que é multicloud?
O termo “multicloud” se refere à estratégia de utilizar serviços de nuvem de diferentes fornecedores em paralelo – como, por exemplo, Amazon Web Services (AWS), Google Cloud Platform (GCP) e Microsoft Azure – para diferentes cargas de trabalho, aplicações ou regiões geográficas. O objetivo é explorar o que cada provedor tem de melhor e evitar a dependência de uma única plataforma.
Essa abordagem difere da cloud híbrida, que combina nuvens públicas com infraestruturas locais ou nuvens privadas, integradas para funcionar como uma única arquitetura. A multicloud, por sua vez, não depende da integração com ambientes locais e prioriza a orquestração entre múltiplas nuvens, sejam públicas ou privadas, muitas vezes com finalidades distintas.
Aspecto | Multicloud | Nuvem Híbrida |
Definição | Uso de múltiplos provedores de nuvem (ex: AWS, Azure, GCP) de forma simultânea | Combinação de nuvem pública com infraestrutura local ou nuvem privada |
Objetivo principal | Flexibilidade, performance, redução de riscos e aproveitamento de serviços específicos de cada fornecedor | Integração entre ambientes locais e em nuvem para continuidade operacional |
Integração entre ambientes | Os provedores funcionam de forma independente, com pouca ou nenhuma integração direta entre si | Os ambientes são fortemente integrados e operam de forma coordenada |
Exemplo prático | Armazenamento em AWS, IA em Google Cloud e analytics em Azure | Aplicações que rodam localmente mas escalam para a nuvem pública quando há picos de demanda |
Na prática, muitas instituições operam em um modelo chamado de “multinuvem híbrida”, combinando o melhor dos dois mundos. Isso permite, por exemplo, manter sistemas críticos sob controle próprio, em uma cloud privada, enquanto se aproveita da elasticidade e dos serviços especializados da nuvem pública para escalar ou testar novas soluções.
Por que a multicloud se tornou estratégica no setor financeiro
Além dos dados que evidenciam sua ampla adoção, a multicloud se tornou estratégica para bancos, fintechs e organizações que oferecem serviços financeiros, pois essa infraestrutura soluciona várias necessidades críticas de tecnologia dessas instituições, que operam em ambientes críticos, com alto volume de transações e exigências regulatórias rigorosas.
“A maior vantagem da multicluod é, sem dúvida, a disponibilidade real. Com ela, uma falha no provedor não vai nos deixar fora do jogo. As transações financeiras exigem essa estrutura com essa disponibilidade”, destacou Arthur Azevedo, Diretor de Engenharia de Software da Dock, durante o painel no Febraban Tech 2025.
A seguir descrevemos as principais vantagens da estratégia multicloud:
Alta disponibilidade e resiliência
Em um cenário no qual a inatividade perante problemas tecnológicos (“downtime”) pode gerar prejuízos milionários – atualmente, segundo a IBM, o custo médio de uma interrupção é estimado em US$ 5 milhões – a multicloud permite distribuir serviços entre diferentes provedores. Assim, se uma plataforma enfrentar instabilidades, outra pode assumir a operação, garantindo continuidade.
“A certeza que a gente tem é que as coisas em algum momento vão parar. Hoje é difícil, claro, tem tecnologias para manter as plataformas funcionando, mas o serviço ainda pode sofrer indisponibilidade”, alertou Alexandre Biancalana, Partner & IT Executive do C6 Bank, para explicar a importância de contar com mais de um provedor.
Redução de riscos de “vendor lock-in”
Ao diversificar os provedores, as empresas ganham poder de barganha, maior liberdade de escolha e evitam ficarem presas a soluções proprietárias ou contratos pouco vantajosos.
Conformidade regulatória e soberania de dados
Reguladores, como o Banco Central, exigem que as instituições sigam normas rígidas de continuidade operacional e proteção de dados. A LGPD, por exemplo, impõe requisitos específicos sobre onde e como os dados pessoais devem ser armazenados. A multicloud permite distribuir cargas conforme os requisitos locais, mantendo conformidade em múltiplas jurisdições.
Flexibilidade para integrar e escalar soluções
Cada provedor de nuvem oferece recursos distintos. Enquanto um pode ser mais robusto em ferramentas de Inteligência Artificial, outro pode ter maior capacidade de processamento em tempo real ou melhor compatibilidade com serviços legados. A multicloud permite compor soluções sob medida, extraindo o melhor de cada fornecedor.
Otimização de custos e performance
Distribuir cargas de trabalho de forma estratégica entre diferentes nuvens permite maximizar a eficiência financeira e técnica, já que sua flexibilidade permite a distribuição de cargas entre provedores distintos e o desligamento de recursos que estão ociosos ou inoperantes. Segundo a Oracle, 40% das empresas apontam a otimização de custos como o principal motivador para adotar um sistema multicloud em sua operação.
Desafios na gestão de ambientes com diferentes clouds
Apesar dos inúmeros benefícios, a adoção de uma arquitetura que opera com diferentes sistemas de infraestrutura em nuvem também traz desafios significativos.
Durante o workshop da Dock no Febraban Tech, Biancalana contou que o C6 optou por criar toda a infraestrutura de multicloud do zero e que na época isso ainda era novidade no setor. Segundo ele, a abordagem traz alguns desafios: “demanda investimento financeiro e de tempo. É preciso planejar antes, conhecer as camadas e abstrações, ter pessoas com experiências para trabalhar e entender o serviço oferecido por cada provedor”.
É fato que para que a estratégia funcione bem e atenda a todos os requisitos operacionais, é necessário um elevado grau de maturidade tecnológica e organizacional. Abaixo, destacamos algumas das principais dificuldades enfrentadas nessa jornada de implementação.
Complexidade de integração
Cada nuvem tem suas particularidades, desde a forma como armazena dados até como oferece serviços. Integrar essas diferentes estruturas exige planejamento e diálogo constante entre os times de tecnologia. Quando essa integração não é bem feita, podem surgir atrasos em entregas e dificuldades na manutenção dos serviços.
Escassez de talentos de tecnologia
Ainda há uma carência de profissionais com experiência prática em ambientes multicloud. Isso significa que contratar ou formar equipes prontas para esse tipo de operação pode levar tempo e exigir investimentos em capacitação, o que impacta diretamente os prazos e custos dos projetos.
Segurança em ambientes distribuídos
Com os dados circulando por diferentes nuvens, o cuidado com a proteção da informação precisa ser ainda maior. Isso significa estabelecer regras claras, acompanhar o que está sendo feito em cada plataforma e reagir rapidamente a qualquer risco ou anomalia. No setor financeiro, em que a confiança do cliente é essencial, uma falha pode ter impactos reputacionais sérios.
Latência e performance dos sistemas
Ao distribuir aplicações e dados entre diferentes nuvens, é comum enfrentar desafios relacionados à velocidade de resposta dos sistemas. Dependendo da localização física dos servidores e da qualidade da conexão entre eles, pode haver atrasos no processamento de informações.
Em setores como o financeiro, em que transações precisam acontecer em tempo real, qualquer milissegundo conta. Por isso, é fundamental planejar cuidadosamente a distribuição das cargas de trabalho para garantir uma experiência fluida e eficiente.
Inovando e escalando com multicloud
A capacidade de inovar continuamente é essencial para que bancos e fintechs mantenham sua relevância em um mercado de rápida transformação. Nesse cenário, a multicloud se destaca como uma alavanca de inovação, por permitir que instituições testem ideias, escalem novas soluções e integrem tecnologias emergentes de forma mais ágil e segura.
Com a multicloud, é possível criar ambientes dedicados para testes de novas funcionalidades, antes que elas sejam distribuídas para toda a base de clientes. Esse estilo de arquitetura permite que as organizações que oferecem serviços financeiros consigam desenvolver provas de conceito (POCs) ou versões mínimas viáveis (MVPs), sem comprometer a operação principal.
Esse ambiente mais propício para testes e o desenvolvimento de novos produtos e serviços acelera o ciclo de desenvolvimento das inovações das empresas. Isso porque a arquitetura multicloud permite adaptar sistemas e produtos a diferentes mercados e regulamentações com mais facilidade, reduzindo a velocidade de lançamento dessas soluções no mercado e melhorando a experiência do cliente.
Além disso, cada provedor de nuvem oferece recursos diferentes, especialmente em tecnologias de ponta como Inteligência Artificial, Machine Learning, Big Data ou blockchain. Ao utilizar múltiplas nuvens, as empresas conseguem acessar o que há de mais avançado em cada uma dessas frentes, combinando o melhor de cada ambiente para não só oferecer soluções mais completas a seus clientes, como também melhorar sua experiência.
Plataforma da Dock conta com arquitetura multicloud
A Dock, líder em soluções de serviços financeiros na América Latina, adota uma arquitetura multicloud como base da infraestrutura tecnológica oferecida por meio da Dock One, sua plataforma que dá suporte a bancos, fintechs e empresas que oferecem serviços financeiros.
Desde o princípio, a Dock One foi desenhada para ser uma infraestrutura nativa em nuvem, explorando o melhor de cada um dos provedores disponíveis no mercado. Por meio dessa arquitetura multicloud, nossos clientes se beneficiam com ganhos concretos de performance, flexibilidade e segurança.
Em um setor no qual a estabilidade, segurança e conformidade são aspectos críticos, a Dock consegue responder rapidamente a picos de demanda, escalar a operação automaticamente e manter a continuidade dos serviços, mesmo em cenários de falha ou flutuações em um dos provedores.
Além disso, operamos em conformidade com padrões rigorosos e as exigências do Banco Central, oferecendo aos nossos parceiros uma infraestrutura já preparada para atender requisitos regulatórios com robustez.
Quer entender como a Dock impulsiona a transformação digital do seu negócio com a infraestrutura certa para a nova era dos serviços financeiros? Saiba mais sobre a Dock One:
Multicloud: o que você viu neste artigo
- A multicloud garante resiliência e continuidade operacional, essencial em um setor no qual falhas podem gerar prejuízos milionários e impactar a confiança dos clientes.
- Diversificar provedores de nuvem oferece mais flexibilidade, redução de custos e conformidade regulatória, evitando dependência de um único fornecedor.
- Adotar uma infraestrutura multicloud exige maturidade tecnológica, com destaque para desafios como integração entre sistemas, segurança distribuída, latência e escassez de profissionais qualificados.
- A multicloud acelera a inovação, permitindo testar soluções em ambientes isolados, integrar tecnologias emergentes e lançar produtos com mais rapidez.
- A decisão pela adoção de uma arquitetura multicloud é estratégica para as lideranças do setor, pois sustenta o crescimento, fortalece a competitividade e prepara as empresas para o futuro dos serviços financeiros.
Artigos relacionados
- Plataforma modular: por que a modularidade é essencial em serviços financeiros e como funciona a Dock One
- Crédito inteligente: como os dados e a tecnologia contribuem para ampliar a inclusão financeira
- Nova economia e o papel estratégico das finanças embarcadas na transformação dos negócios
- Mercado de adquirência: uma nova era de oportunidades no setor financeiro
- Pix automático: funcionalidade promete revolucionar pagamentos recorrentes