Bioeconomia: o que isso tem a ver com bancos e fintechs?
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Embora não seja um termo novo, a bioeconomia ganhou destaque nas últimas semanas como tema central do Febraban Tech 2023. O principal evento de tecnologia e inovação do setor financeiro da América Latina confirmou que, embora o conceito possa parecer algo distante do segmento, são muitas as oportunidades para bancos e fintechs atuarem em projetos e negócios que impactam positivamente a biodiversidade.
Como veremos neste artigo, ao promover e fortalecer a bioeconomia, as instituições financeiras podem ir muito além de seus compromissos relacionados a ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance), impulsionando o cenário econômico e facilitando o acesso ao sistema financeiro de comunidades e empresas atuantes na preservação da natureza.
O que é bioeconomia?
A bioeconomia é um campo do conhecimento que estuda os sistemas biológicos e recursos naturais aliados à utilização de novas tecnologias, com propósito de criar produtos e serviços mais sustentáveis.
Trata-se de um novo modelo de desenvolvimento econômico que surge para solucionar um dos problemas mais urgentes do meio de produção atual: a preservação da biodiversidade e a regeneração dos biomas, reduzindo desigualdades, desperdícios e a escassez de recursos naturais.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia já movimenta cerca de 2 trilhões de euros no mercado mundial e gera cerca de 22 milhões de empregos globalmente.
Já no Brasil, o estudo Identificação das Oportunidades e o Potencial do Impacto da Bioeconomia para a Descarbonização, organizado pela Associação Brasileira de Bioinovação, aponta que o setor pode gerar uma receita industrial anual de US$ 284 bilhões até 2050.
Como a bioeconomia impacta o cenário econômico?
Mas afinal, como a bioeconomia influencia positivamente o cenário econômico? Para melhor explicar essa lógica, recorremos novamente aos dados da OCDE, que estima que 10% dos recursos naturais hoje existentes serão perdidos em quarenta anos caso não haja esforços para frear a perda da biodiversidade.
Ou seja, os recursos naturais mais do que nunca são considerados ativos econômicos com muitas oportunidades de negócios. Assim, ao quantificar o valor econômico da biodiversidade, pode-se propor políticas públicas que impulsionem a sua conservação, criando um modelo de desenvolvimento que gera benefícios sociais e econômicos.
De acordo com o enfatizado por representantes do setor financeiro brasileiro, durante o Fórum de Inovação em Investimento na Bioeconomia Amazônica, “fazer com que a bioeconomia se transforme em uma parte importante do PIB nacional é possível, mas ainda existe muita coisa a ser feita até lá”.
Nesse sentido, alguns países da América Latina já estão com iniciativas de bioeconomia bastante avançadas. A Colômbia, por exemplo, planeja atrair investimentos para se tornar um centro de negócios sustentáveis na região. Para isso, já iniciou o mapeamento de mais de 300 empresas que podem ser atraídas para desenvolver negócios sustentáveis no país, além da identificação de 60 novas oportunidades concretas de investimento sustentável.
Já a Plataforma Jornada Amazônica, liderada pela Fundação Certi e apoiada por bancos privados brasileiros, tem o objetivo de capacitar até 3 mil talentos e estimular a criação de 200 startups na Amazônia, em três anos, para estimular a bioeconomia na região.
Leia também | Educação financeira: qual é o papel do mercado de pagamentos e banking em promovê-la?
Qual é o papel dos bancos frente à bioeconomia?
As instituições financeiras desempenham papel fundamental na bioeconomia, podendo agir em duas frentes:
- Fortalecendo o financiamento e o investimento em projetos relacionados à economia sustentável. Bancos e fintechs são essenciais na aceleração de atividades que envolvem a utilização de recursos naturais, a exemplo do agronegócio e da pesca.
- Atuando na adequação aos compromissos de sustentabilidade propostos por órgãos nacionais e internacionais. Um desses organismos é a Aliança Global Gfanz, que exige das instituições financeiras a redução de suas emissões em até 50% até 2030, além de vedar o financiamento de projetos que envolvam a queima de carvão.
Outro ponto de atenção na associação entre sistema financeiro e bioeconomia é o quanto a satisfação do usuário é positivamente afetada quando os bancos integram ações de responsabilidade social e ambiental em sua estratégia de negócio.
No Brasil, o estudo A Consciência dos Brasileiros sobre Importância da Sustentabilidade, divulgado pela Febraban, indica que 92% dos entrevistados consideram que as práticas ESG das empresas interferem em sua opinião sobre as marcas e que 77% gostariam de que a legislação fosse mais rígida quanto à sustentabilidade. Porém, apenas 17% mencionam os bancos dentre as empresas que mais adotaram tais práticas.
Crédito verde: o crédito associado à bioeconomia
Avançando na ideia de apoiar o financiamento de projetos relacionados à sustentabilidade, o crédito verde tem se mostrado um excelente caminho para bancos e fintechs que buscam contribuir com a agenda da bioeconomia.
O crédito verde é uma forma de empréstimo que propõe condições financeiras mais atrativas para empresas que comprovem a melhora de seus índices de sustentabilidade, com adoção de tecnologias e modelos de produção voltados para sustentabilidade econômica, social e ambiental.
No Brasil, a modalidade vem ganhando espaço nos últimos anos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, indicou que 68% de sua carteira de crédito, no segundo semestre de 2022, estava vinculada a projetos que apoiam a economia verde e o desenvolvimento social. Lembrando que a oferta do crédito verde ocorre também em outros bancos brasileiros, sejam eles públicos ou privados.
Para saber mais sobre crédito verde, você pode conferir este vídeo da Confederação Nacional da Indústria (CNI):
A relação da bioeconomia com a inclusão financeira
As lideranças dos principais bancos do Brasil debateram a bioeconomia no Febraban Tech 2023 sob dois pontos de vista: o das ações efetivas em prol da sustentabilidade (como a redução das emissões de carbono) e o da percepção por investidores das ações ambientais como ativos econômicos.
Teve destaque também a importância de ampliar o debate da sustentabilidade, levando em conta que, quando falamos em “um mundo melhor”, essa pauta envolve a inclusão das pessoas no sistema financeiro, a ampliação do acesso ao crédito e a diminuição da miséria.
“O sistema financeiro tem como missão pensar ações junto com os governos para de fato gerar a inclusão financeira”, pontuou Maria Rita Serrano, presidente da Caixa Econômica Federal, no painel de abertura do Febraban Tech 2023. Abaixo você pode conferir a fala na íntegra:
O estudo Como a bioeconomia pode combater a pobreza na Amazônia?, do Instituto Escolhas, já mostrou, por exemplo, como o investimento em horticultura e a recuperação florestal pode ser estratégia de enfrentamento à pobreza, promovendo uma transição econômica para cadeias produtivas da bioeconomia em detrimento daquelas que destroem a floresta.
Assim, a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade social na cadeia produtiva da bioeconomia precisa ser amparada também pela inclusão financeira na América Latina. O acesso a serviços e produtos financeiros tem um potencial gigante de empoderar as comunidades, dando-lhes o controle sobre suas finanças e oferecendo oportunidades para melhorar suas vidas.
Bioeconomia e sistema bancário: o que você viu neste artigo
- A bioeconomia estuda os sistemas biológicos e recursos naturais aliados à utilização de novas tecnologias, com propósito de criar produtos e serviços mais sustentáveis.
- O modelo propõe reduzir desigualdades, desperdícios e a escassez de recursos naturais.
- Os recursos naturais, mais do que nunca, são considerados ativos econômicos com muitas oportunidades de negócios.
- As instituições financeiras desempenham papel fundamental na bioeconomia, podendo agir em duas frentes: fortalecendo o financiamento e investimento de projetos sustentáveis e atuando na adequação aos compromissos de sustentabilidade.
- O crédito verde é uma forma de empréstimo que propõe condições financeiras mais atrativas para empresas que comprovem a melhora de seus índices de sustentabilidade. É um excelente caminho para bancos e fintechs que buscam contribuir com a agenda da bioeconomia.
- O debate da sustentabilidade vem sendo ampliado, levando em conta que, quando falamos em “um mundo melhor”, essa pauta envolve a inclusão das pessoas no sistema financeiro, a ampliação do acesso ao crédito e a diminuição da miséria.
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