Como parte de um amplo movimento de inovação, países da América Latina têm desenvolvido suas próprias iniciativas de pagamentos instantâneos, como foi o caso do Pix, no Brasil, e do CoDi, no México. Agora, a Colômbia se prepara para seguir essa tendência com o lançamento do Bre-B, seu sistema de operações financeiras instantâneas.
O Bre-B será um marco para a Colômbia, oferecendo uma solução moderna de pagamentos instantâneos, que visa ampliar a acessibilidade a serviços financeiros e reduzir a dependência do dinheiro em espécie. Gerido pelo Banco de la República de Colômbia, o Bre-B funcionará como um ecossistema centralizado de compensação e liquidação de pagamentos, garantindo a interoperabilidade entre diversas instituições financeiras do país.
Neste artigo, vamos explorar mais sobre o sistema de pagamentos instantâneos da Colômbia, analisando como essa iniciativa se encaixa no cenário do país e sua importância para a inclusão financeira. Ainda, discutiremos os principais desafios para sua implementação, além de destacar suas diferenças em relação ao Pix, iniciativa liderada pelo Banco Central do Brasil.
O que é o Bre-B?
O Bre-B é um sistema de pagamentos instantâneos interoperável criado pelo Banco de la República de Colômbia, a principal instituição monetária do país. O seu objetivo é viabilizar transações financeiras rápidas, seguras e acessíveis entre indivíduos, empresas e instituições financeiras.
A criação do Bre-B é uma resposta estratégica a vários desafios enfrentados pelo setor colombiano de pagamentos e serviços financeiros. Entre os principais objetivos do Banco de la República ao lançar esse sistema, destacam-se:
- Redução do uso de dinheiro em espécie: atualmente, grande parte das transações no país ainda é realizada em dinheiro físico, o que limita a inclusão financeira e aumenta os custos operacionais do sistema bancário.
- Maior formalização da economia: ao digitalizar os pagamentos, o governo poderá melhorar a rastreabilidade das transações, reduzindo a informalidade e ampliando a arrecadação fiscal.
- Interoperabilidade entre sistemas existentes: diferentes instituições financeiras já oferecem soluções próprias de pagamentos digitais na Colômbia, mas sem interoperabilidade entre si. O Bre-B integrará esses sistemas, permitindo que os usuários realizem transações entre diferentes bancos e fintechs sem barreiras.
Como o Bre-B funcionará?
O Bre-B funcionará como uma plataforma de pagamentos instantâneos, permitindo transferências de valores em menos de 20 segundos, disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. As transações serão processadas por um diretório centralizado de compensação e liquidação, garantindo a interoperabilidade entre diferentes instituições financeiras, incluindo bancos, fintechs e cooperativas de crédito.
Os usuários poderão cadastrar chaves de pagamento, semelhantes às utilizadas no Pix, vinculando as suas contas bancárias ou digitais a números de telefone, documento de registro ou e-mails, facilitando a realização de transferências de maneira simples e intuitiva.
Quando o Bre-B será lançado?
A previsão é que o Bre-B entre em funcionamento no segundo semestre, mais precisamente em setembro de 2025. Antes disso, em julho de 2025, os usuários poderão começar a cadastrar as suas chaves de pagamento, como aconteceu com o Pix, no Brasil.
Para garantir uma adoção ampla e eficaz, o Banco de la República conduzirá uma campanha nacional de comunicação e conscientização, educando a população sobre os benefícios e funcionalidades do sistema.
Bre-B x Pix: uma diferença estrutural
Embora o Bre-B seja frequentemente comparado ao Pix, o modelo colombiano apresenta algumas diferenças estruturais significativas. A principal distinção está no fato de que, enquanto o Pix foi desenvolvido e é operado exclusivamente pelo Banco Central do Brasil, o Bre-B funcionará como um orquestrador das redes privadas já existentes na Colômbia.
Isso significa que, em vez de substituir os sistemas de pagamento digitais das instituições financeiras privadas, ele atuará como um hub central, garantindo a interoperabilidade e eficiência das transações entre os diferentes agentes financeiros.
Dessa forma, enquanto o Pix foi construído como uma infraestrutura pública e obrigatória para todas as instituições financeiras do Brasil, o Bre-B se baseia na colaboração entre o Banco de la República e entidades privadas para fomentar um ecossistema de pagamentos mais eficiente e competitivo.
Esse modelo híbrido permite que a Colômbia aproveite as soluções de pagamento já existentes no país e crie um ambiente mais flexível para inovação no setor financeiro.
O contexto do setor financeiro colombiano
A Colômbia enfrenta desafios importantes em relação à inclusão financeira e digitalização, conforme detalhado na segunda edição do relatório Terras de Oportunidades, produzido pela Dock. O país é um dos maiores usuários de dinheiro em espécie do mundo, o que limita a adoção de soluções financeiras digitais e dificulta a formalização econômica.
Baixa digitalização
A penetração de smartphones na Colômbia é de 76%, abaixo da média da América Latina. No Brasil, por exemplo, essa taxa chega a quase 90%. Isso impacta diretamente a adoção de serviços financeiros digitais, uma vez que muitos colombianos ainda dependem de transações em dinheiro físico.
O índice de desbancarização caiu significativamente ao longo da última década, passando de 70% em 2011 para 44% em 2021. Mais recentemente, esse nível chegou a 8% em 2023. No entanto, esse progresso ainda esbarra na falta de iniciativas mais robustas para digitalizar os pagamentos e ampliar o acesso a serviços financeiros formais, como empréstimos e crédito.
Uso de dinheiro em espécie
A dependência do dinheiro em espécie ainda é alta na Colômbia, especialmente em áreas rurais e entre pequenas empresas. Atualmente, cerca de 34% das transações em pontos de venda ainda são realizadas com dinheiro físico, o que limita a adoção de soluções digitais e a rastreabilidade financeira. Além disso, 52% dos colombianos ainda usam dinheiro todos os dias da semana.
No entanto, iniciativas como o Pagos Seguros en Línea (PSE), um sistema de pagamentos eletrônicos, e a disponibilidade de carteiras digitais, como a Efecty, Nequi e Daviplata, a tendência é que a Colômbia passe a substituir o dinheiro físico e comece a explorar alternativas mais digitais nos próximos anos. O uso de soluções de pagamentos A2A (conta a conta), por exemplo, deve crescer 20% ao ano entre 2023 e 2027.
Tendências positivas para o uso de tecnologia
Apesar dos desafios, há sinais promissores de transformação digital na Colômbia. O e-commerce, por exemplo, deve crescer a uma taxa anual de 16% ao ano até 2027, tornando-se um dos mercados mais dinâmicos da América Latina. Com isso, esse canal deve atingir um valor de US$ 26 bilhões nos próximos dois anos.
A regulamentação do Open Finance e o desenvolvimento de um ecossistema financeiro mais interoperável também são fatores que podem acelerar essa transição. A iniciativa do Banco de la República com o Bre-B representa um grande avanço nesse sentido, promovendo pagamentos instantâneos e reduzindo a dependência de dinheiro físico.
Bre-B: o que você viu neste artigo
- O Bre-B é o novo sistema de pagamentos instantâneos da Colômbia, inspirado no Pix, para impulsionar a inclusão financeira e reduzir o uso de dinheiro em espécie.
- O Banco de la República gerenciará o Bre-B, enquanto agentes privados operarão as transações para garantir interoperabilidade e eficiência.
- Atualmente, a Colômbia enfrenta desafios como alta dependência do dinheiro físico, baixa digitalização bancária e desigualdade no acesso financeiro.
- O crescimento do e-commerce, a popularização de carteiras digitais e o avanço do Open Finance favorecem a digitalização financeira no país.
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