Real Digital: o que você precisa saber sobre a moeda digital do Banco Central
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A corrida tecnológica das moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs – na sigla em inglês, Central Bank Digital Currencies) tem avançado em vários países. Aqui no Brasil, o Real Digital entrou em testes em 2023, com previsão de estar à disposição dos correntistas no final de 2024. Um dos seus objetivos é dar suporte à oferta de serviços financeiros, por isso já é conhecida como “Pix dos Serviços Financeiros”.
Em anúncio realizado em março deste ano, o coordenador do projeto no Banco Central, Fabio Araujo, reiterou que o Real Digital vai permitir a transferência de ativos financeiros de forma tão instantânea quanto o Pix. Mas se a moeda digital funcionará de forma semelhante ao sistema de pagamentos instantâneos, quais são as suas vantagens?
Neste artigo, trazemos um panorama sobre como o projeto da moeda digital brasileira deve avançar daqui pra frente e o seu potencial para modernizar o nosso sistema financeiro. Acompanhe!
Mas afinal, o que é o Real Digital?
Embora haja muita confusão a respeito, é preciso deixar claro logo de início que o Real Digital não é uma criptomoeda, embora carregue muito da sua tecnologia.
Diferentemente das criptomoedas, que são privadas e têm características de investimentos, as CBDCs são reguladas e têm um órgão emissor.
Ou seja, as CBDCs são consideradas uma nova representação da moeda já emitida pelas autoridades monetárias na forma de cédula. Isso significa que a moeda Real Digital é o Real em formato virtual.
Dessa forma, um Real Digital sempre vai ser equivalente a R$ 1, pois se trata de uma moeda alternativa, mas com o mesmo valor do dinheiro tradicional.
LIFT Challenge: o laboratório do Real Digital
Embora a fase de testes tenha começado em março de 2023, o projeto é tema de um longo estudo do Bacen.
Em 2021, por exemplo, a autoridade monetária lançou o LIFT (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas) e colocou em curso o LIFT Challenge “Real Digital”, que estudou projetos que ajudaram a desenvolver a moeda digital brasileira.
Foi neste ambiente de pesquisa e inovação que, em outubro de 2022, o BC emitiu, ainda em caráter experimental, as primeiras unidades da moeda digital. E são esses resultados obtidos na plataforma de testes do Lift Challenge que estão servindo de base para as próximas etapas que estão por vir.
Essas primeiras unidades já emitidas são do tipo stablecoin, ou moeda estável, que possui paridade de 1:1 com o Real. Trata-se de uma modalidade bastante utilizada como moeda intermediária em negociações de outras criptomoedas que possuem maior volatilidade.
Aliás, um dos motivos da opção pelo stablecoin seria o controle da blockchain pela autoridade monetária, tornando mais difícil o uso desses ativos para lavagem de dinheiro, por exemplo.
Como a moeda digital vai funcionar?
Com o objetivo de fazer o projeto da moeda digital brasileira ganhar forma, o Banco Central começa a desenvolver agora uma plataforma para testes que permite o registro de ativos de várias naturezas.
O objetivo da moeda digital é simplificar pagamentos e transações entre pessoas e instituições bancárias. Para isso, deve contemplar duas versões:
- Atacado (Real Digital): utilizado para pagamentos entre o Banco Central e as instituições financeiras
- Varejo (Real Tokenizado): emitido pelo mercado e que será utilizado pelo consumidor final.
O Bacen tem realizado uma série de webinars e coletivas para falar sobre o tema no seu canal do YouTube. Abaixo você pode conferir a coletiva que aconteceu recentemente:
Para Fabio Araujo, coordenador do projeto no BC, o Real Digital será um meio de pagamento instantâneo para dar suporte à oferta de serviços financeiros de varejo. “É o Pix dos Serviços Financeiros e pretende ampliar os produtos no mercado”. Na prática, isso poderia reduzir o custo de crédito e aumentar o retorno de investimentos porque retira intermediários das negociações.
Na avaliação de Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, em um primeiro momento, ele provavelmente terá mais aplicabilidade para a pessoa jurídica, não sendo utilizado em larga escala por pessoas físicas.
“O que estamos construindo é uma infraestrutura que permita a tokenização desses depósitos. E, a partir daí, você abre um leque de oportunidades para outros produtos e serviços no sistema financeiro”, explica.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), tem participado ativamente das discussões em torno da moeda digital brasileira desde o início dos trabalhos técnicos do projeto junto ao Banco Central. Recentemente, criou um novo grupo de trabalho, composto por representantes de cerca de 15 bancos, para contribuir com o regulador para o início do desenvolvimento do projeto-piloto.
Qual é a diferença entre o Real Digital e o Pix?
Enquanto o sistema de pagamentos instantâneos do Bacen é uma forma de movimentar o dinheiro na versão eletrônica, o Real Digital é a própria moeda em sua versão virtual.
Quando alguém envia um Pix, por exemplo, está enviando uma ordem de transferência do seu dinheiro depositado. Com a moeda digital, a cédula tokenizada está na carteira digital do seu portador, podendo ser transferida sem passar por um banco.
Ou seja, a autonomia na programação de pagamentos e transações, dispensando bancos e demais intermediários, é uma das grandes novidades da moeda digital brasileira.
Moeda Digital Brasil na pauta de modernização do sistema financeiro
O Real Digital é mais uma peça dentro da pauta de modernização do sistema financeiro, divulgada em 2019 pelo Banco Central. Entre os objetivos da chamada Agenda BC#, estão ampliar a democratização financeira e viabilizar o crescimento do PIB, favorecendo assim a recuperação da economia.
Como parte dessas iniciativas, por exemplo, temos a implantação do Open Finance, que possibilita o compartilhamento de informações dos usuários entre instituições e permitirá que os usuários movimentem suas contas por meio de diferentes plataformas e migrem com maior facilidade de um banco para outro.
O Sistema Financeiro Aberto começou a ser implantado em fevereiro de 2021 no país e, dois anos depois, em 2023, registrou a marca de 17,3 milhões de consentimentos dados por clientes que, por opção, escolheram compartilhar seus dados pessoais e bancários entre as instituições financeiras participantes do ecossistema.
O Pix, sistema de pagamentos instantâneos lançado em novembro de 2020, foi outra ação do BCB nesse sentido. Considerado um grande case de sucesso mundial em inovação, em poucos meses de existência ultrapassou o número de transações via DOC, TED e boleto – 70% dos brasileiros já movimentam dinheiro usando Pix.
A moeda digital do Banco Central surge, portanto, como parte desse grande movimento e pode potencializar ainda mais a aplicação de novas tecnologias, como smart contracts, IoT (internet das coisas) e dinheiro programável no sistema financeiro. Ao mesmo tempo, porém, esse caminho pode ser considerado uma evolução natural do mercado, já que a maioria do dinheiro circula no país hoje de forma eletrônica, por meio de pagamentos digitais.
Assim como o Drex, o Pix faz parte da agenda de modernização do sistema financeiro do Brasil. E sua implementação foi um sucesso! Preencha o formulário para acessar nosso conteúdo sobre o tema:
Quais os benefícios que o Real Digital deve trazer ao sistema financeiro, seus participantes e usuários?
De forma geral, considera-se que as moedas digitais de bancos centrais podem contribuir para reduzir a emissão e circulação de papel moeda e inibir crimes relacionados a fraudes financeiras, como lavagem de dinheiro – um problema recorrente no Brasil.
Na prática, a tecnologia irá reduzir o custo das transações financeiras. Além disso, esses ativos também podem ter um importante papel na ampliação da inclusão financeira.
Vale reforçar que, enquanto outros países enxergam nas CBDCs uma forma de aproveitar a tecnologia blockchain (que é global e funciona 24 horas por dia) para promover transações instantâneas, esta não seria uma necessidade brasileira.
Isso porque o país já conta com o Pix desde novembro de 2020. De acordo com o Banco Central, o Real Digital é projetado para ter funcionalidades diferentes. Como explica Araujo, a ideia é “olhar um pouco mais adiante no que essa tecnologia pode fazer, com programabilidade e tokenização”.
Tendo em vista algumas previsões que já foram feitas sobre o uso da moeda digital brasileira, podemos pensar em diversos benefícios, tanto para o Sistema Financeiro como um todo, quanto para seus usuários e participantes considerados individualmente.
Como a moeda digital pode beneficiar o Sistema Financeiro
- Estimula novos modelos de negócios que aumentem a eficiência do sistema de pagamentos no varejo;
- Promove a inovação e concorrência em serviços financeiros, acelerando a inclusão financeira da população ainda pouco atendida por serviços bancários;
- Impulsiona a substituição do dinheiro físico, elevando a formalidade na economia e ajudando em tarefas como cobrança de impostos e combate à lavagem de dinheiro;
- Reduz o custo de impressão do dinheiro, uma vez que será necessário um volume menor de cédulas em papel e moedas em circulação;
- Obriga o poder público a encontrar meios de digitalizar seus processos e oferecer mais comodidade, conforto e segurança à população;
- Por fim, ao contrário das criptomoedas, uma moeda controlada pelo governo é mais estável, o que torna o investimento em inovações mais seguro, podendo alavancar serviços financeiros através de finanças descentralizadas (DeFi).
Como o Drex pode beneficiar usuários do Sistema Financeiro
- Facilita o estabelecimento das carteiras digitais, mudando a maneira de utilizar a conta digital através do Open Finance – que visa gerenciar todas as informações bancárias de um usuário em uma única plataforma;
- Possibilita que pessoas ofereçam serviços, como empréstimos, sem a intermediação de instituições financeiras, que por sua vez seriam obrigadas a melhorar serviços, aumentando a competitividade no mercado;
- Permite a “internacionalização” da moeda brasileira e sua utilização em viagens no exterior ou compras internacionais sem a necessidade de conversão da moeda;
- Confere segurança e rapidez em transações internacionais, eliminando burocracias, já que a estrutura é toda digital;
- Apesar de não ser uma criptomoeda, o Real Digital utiliza a tecnologia blockchain, um dos meios mais seguros de transações digitais e que facilita a execução dos contratos pré-pagos (como a compra e venda de um carro usado entre particulares, por exemplo).
Já existe um cronograma para a implementação do Real Digital?
No início de março deste ano, o Banco Central anunciou o início do projeto-piloto do Real Digital. Em abril, haverá um workshop com o mercado sobre o tema. Já em maio, devem ser anunciados os participantes do piloto.
A próxima etapa será de realização de testes em ambiente simulado, sem envolver transações ou valores reais. Nesta fase, está prevista, por exemplo, a participação do Tesouro Nacional, com o objetivo de construir tecnologias mais eficientes e baratas para negociações de títulos.
Os testes devem durar até fevereiro de 2024. A partir de março do ano que vem, a expectativa é que aconteça uma etapa de avaliação antes do lançamento do Real Digital ao público.
O que esperar da moeda digital do Brasil?
Embora não exista ainda uma data oficial para a implementação do Real Digital, ao que tudo indica, a tendência é que os brasileiros recebam bem a novidade.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo PayPal, 79% dos brasileiros afirmam gostar da ideia de não ter que usar dinheiro e 93% revelaram que adotariam a moeda digital emitida pelo Banco Central. O índice de aceitação no Brasil é o mais alto entre os países pesquisados.
Evidentemente, só saberemos, de fato, como se dará essa adesão no futuro, após o estabelecimento do Real Digital. Contudo, a exemplo do que aconteceu com o Pix, isso demonstra que a população brasileira está aberta para adotar novos meios de pagamento e acompanhar a evolução tecnológica do mercado financeiro.
Na Dock, acompanhamos de perto a pauta das CBDCs!
Aqui na Dock, somos apaixonados por modelos financeiros e inovações que tornem as transações mais fluidas, simples e amplamente disponíveis à população. Por isso, estamos acompanhando de perto a evolução do tema do Real Digital e outras CBDCs pelo mundo.
Acreditamos que essa pauta seja muito mais do que uma tendência, mas uma transformação inevitável que vai modernizar o sistema financeiro ao redor do mundo. E isso traz perspectivas excelentes!
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FAQ: as principais perguntas sobre o Real Digital
O que é Real Digital?
Explicando de uma forma simples, podemos dizer que é uma versão do Real para o ambiente online. Embora seja baseada em blockchain, não é classificada como uma criptomoeda, mas sim como uma Central Bank Digital Currency (CBDC), ou moeda digital do Banco Central, com lastro do governo.
Como a moeda poderá ser utilizada?
Como o Real Digital ainda está em fase de testes, não é possível vislumbrar todos os tipos de serviço que vão surgir a partir da moeda digital. De acordo com o Banco Central, as soluções serão criadas pelas instituições financeiras.
Como comprar o Real Digital Banco Central?
Ainda não foram divulgados detalhes sobre esse processo. Por enquanto, sabe-se que vai ser emitido pelo BCB, como uma extensão da moeda física, com a distribuição ao público intermediada pelos bancos e instituições de pagamento.
Além disso, o Real Digital poderá ser armazenado em uma carteira digital e que terá paridade 1:1 com o Real (ou seja, o Real Digital valerá sempre o mesmo que o Real em espécie). Por fim, a moeda digital poderá ser trocada pelo real tradicional (em notas), e vice-versa.
Real Digital Banco Central: o que você viu neste artigo
- Vários países estão evoluindo na pauta da implantação de moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs).
- A moeda digital entrou em testes em 2023 com previsão de estar à disposição da população no final de 2024.
- Trata-se de uma extensão virtual do Real e um dos objetivos do Banco Central é que a moeda dê suporte à oferta de serviços financeiros de varejo. Por isso, o Real Digital já é chamado de “Pix dos Serviços Financeiros”.
- Assim como o Open Finance e o Pix, o projeto faz parte da Agenda BC#, a pauta de modernização do sistema financeiro proposta pelo Banco Central a fim de ampliar a democratização financeira e viabilizar o crescimento do PIB.
- Segundo uma pesquisa do PayPal, 93% dos brasileiros adotariam moeda digital emitida pelo Banco Central.
- O cronograma prevê a conclusão da fase de testes em dezembro de 2023. Se tudo seguir dentro do previsto, a ideia é abrir para participação da população no final de 2024.
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