Tokenização: o que é e qual seu impacto nos serviços financeiros?

Publicado em 06 jun 2023.

Tempo de leitura 13 minutos de leitura

O processo de digitalização dos dados a partir da tecnologia blockchain, a mesma que viabilizou a criação das criptomoedas, está alcançando outro patamar igualmente revolucionário: a tokenização.

A partir dessa inovação, mercados de diversos ativos se tornam mais acessíveis, integrados e extremamente seguros, permitindo a entrada massiva de novos investidores.

O impacto esperado da negociação de tokens é imenso. De acordo com a estimativa da MarketsandMarkets, a tokenização de ativos será responsável por expandir o mercado de US$ 2,3 bilhões em 2021 para US$ 5,6 bilhões até 2026.

Neste artigo, vamos abordar o que é a tokenização e como ela funciona, além de explorar em mais detalhes as consequências esperadas da democratização das transações de ativos tokenizados ao redor do mundo e o seu impacto nos serviços financeiros.

 

O que é tokenização?

 

Infográfico: Tokenização
Infografía – Tokenización
Tokenization – infographic

O processo de tokenização consiste na transformação de um ativo em um token. Em outras palavras, qualquer bem ou direito que possua valor financeiro pode ser convertido numa espécie de “símbolo” ou “ficha”, denominado token.

A chamada tokenização é, portanto, o procedimento de representação digital do ativo, seja ele originalmente digital ou material. Um token pode representar o ativo inteiro ou apenas uma fração do ativo inicial.

Uma vez que a tokenização é realizada, sua “ficha” é pública e verificável. A partir desse momento, não é mais possível fazer qualquer alteração ou negociação do ativo tokenizado sem que haja respectivo registro. Tamanha transparência proporciona excelente segurança antifraude.

 

Como funciona a tokenização?

 

Tokenizar é como emitir ações de um bem, propriedade ou direito. O ativo é tokenizado a partir de criptografia ponta a ponta integrado à tecnologia blockchain.

A linguagem de programação que registra o token é onde ficam definidas as características do ativo, as regras para identificar seus proprietários e também as formas como aquele ativo pode ser transacionado, em contratos inteligentes.

Os tokens podem ser classificados em fungíveis ou não fungíveis (conhecidos como NFTs  ou non-fungible token, em inglês), a depender do ativo que representam:

  • Token fungível: o ativo representado pode ser substituído por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade.
  • Token não fungível (NFT): em geral, o ativo representado possui característica de exclusividade, não havendo equivalência direta com outro ativo.

Os exemplos mais simples de NFTs são aqueles associados a obras de arte. Afinal, um quadro de Picasso não pode ser substituído por um quadro de Van Gogh e vice-versa. Ou seja, tokens que venham a representar esses ativos, embora ambos correspondam a obras de arte muito valiosas, não são substitutos diretos, equivalentes.

 

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Tokenização em diferentes setores

 

Gráfico 'Alcance do mercado global de tokenização em US$ até 2029'
Gráfico 'Alcance del mercado global de tokenización en dólares estadounidenses hasta 2029'
Graphic 'Global Tokenization Market Reach in USD to 2029'

 

Como todo ativo que possui valor econômico e é passível de negociação pode ser tokenizado, é razoável considerar que se trata de uma questão de tempo até que a tokenização tenha amplo alcance. Ao mesmo tempo, ativos tokenizados abrem possibilidades para surgimento de novos modelos de negócios.

Alguns dos exemplos mais comuns de setores passíveis de tokenização são: mercado imobiliário, mercado de valores mobiliários (como títulos e ações), mercado de arte e objetos colecionáveis, mercado de metais preciosos, mercado de commodities etc.

Além dos mercados tradicionais, a tokenização de ativos cria também novas oportunidades de aplicação de recursos, tal como a negociação de direitos à receita futura de artistas ou atletas, por exemplo.

Em casos como esses, o profissional envolvido se beneficia com a possibilidade de “antecipar” seus rendimentos para o momento presente e assim investir em novos treinamentos e materiais, por exemplo, que contribuam para seu sucesso futuro.

 

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Tokenização no mercado de pagamentos e banking

 

A transição do uso de moeda física para moedas digitais têm sido progressiva e consistente nos últimos anos em todo o mundo. Mesmo em regiões como a América Latina, onde o dinheiro em papel moeda ainda é o meio de pagamento mais utilizado, iniciativas digitais como o Pix têm encontrado adesão surpreendente.

Essa transição para moedas digitais tende a se acelerar com a tokenização dos ativos. As criptomoedas, em paralelo ao avanço do Open Finance, serão cada vez mais usadas nas negociações dos tokens. Com o tempo, espera-se também que os próprios tokens passem a ser usados como meio de pagamento, numa espécie de “escambo moderno”.

 

Impactos da tokenização no mercado de meios de pagamento

 

Atualmente o método da tokenização já vem sendo utilizado no segmento de meios de pagamento para trazer maior segurança ao processamento de pagamento digitais, mantendo sob sigilo as informações sensíveis do usuário. Trata-se de um método ainda mais eficiente que a criptografia comum como barreira nas soluções antifraude.

Alguns dos benefícios trazidos pela tokenização no setor de banking e pagamentos:

  • Redução do uso de moeda física promovendo economia para os países;
  • Maior segurança para as transações financeiras;
  • Conciliação mais simples e rápida;
  • Redução de custos de intermediação;
  • Maior eficiência através do uso de contratos inteligentes (smart contracts).

Além disso, novos produtos e serviços financeiros tendem a surgir a partir da consolidação da tokenização de ativos, promovendo a ampliação do potencial de captação de recursos, especialmente para pequenas e médias empresas, assim como a inclusão financeira da população ainda não bancarizada, sobretudo em cenários como o da América Latina.

Hoje, por exemplo, já existem bancos explorando a emissão de dívidas em estruturas de blockchain na Europa. Em breve, espera-se que a tokenização reduza também o custo cambial das transações que envolvem entrada e saída de recursos entre países.

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Banco Central e a tokenização no Brasil

 

No Brasil, o Banco Central tem investido em iniciativas que ajudarão a promover a tokenização no país. Um dos seus principais projetos que tende a acelerar a tokenização é o “Real Digital”.

Infográfico: Projeto 'Real Digital'  do Banco Central

 

O Real Digital, também conhecido como a CBDC brasileira, será uma moeda digital: um token emitido pelo BC com lastro nos depósitos recebidos. A vantagem da CBDC em relação às criptomoedas é que ela contará com o respaldo do BC, que poderá intervir para evitar volatilidade excessiva, tal como observada com o bitcoin, por exemplo.

O esforço do BC na criação da moeda digital tem foco em estimular a tokenização da economia brasileira. No Febraban Tech 2022, o próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto, afirmou que a tokenização “veio para ficar”, aumentando a eficácia e competitividade do sistema financeiro. Na oportunidade, ele também afirmou que, aos poucos, espera-se que o sistema bancário migre para um sistema tokenizado, no qual existirão “menos contas e mais tokens”.

 

Tema segue em destaque no contexto atual

 

No Febraban Tech 2023, a tokenização seguiu sendo um dos assuntos de destaque do evento, sobretudo quando se tratou sobre o Real Digital. Fabio Araujo, coordenador do projeto no BC, participou de uma mesa sobre o tema.

Além de revelar a ampliação das propostas de testes do Real Digital, Araujo ressaltou que a tokenização pela tokenização não basta, é preciso que esse processo seja feito para atender as necessidades do sistema, ampliando e facilitando o acesso a serviços.

Confira o painel “Real Digital e Brasil no mapa das tokenizações” no Febraban Tech 2023:

 

Obstáculos à tokenização: regulamentação é o grande desafio atual

 

O maior obstáculo atual à tokenização, não apenas no Brasil como no mundo, é o deficiente arcabouço jurídico necessário para regulamentar suas operações. Há uma lacuna legislativa a ser preenchida no que se refere aos criptoativos: falta definição de regulamentação e nomeação de órgãos competentes para a sua fiscalização.

Enquanto o desafio da regulamentação não for superado, as iniciativas de tokenização podem não prosperar, a depender do modelo de negócio ativo transacionado e seu respectivo regulador.

Entretanto, uma vez solucionada esta dificuldade, a tokenização vai permitir uma explosão de novas oportunidades principalmente no mercado de capitais, no qual será possível tokenizar empresas, recebíveis e títulos.

É possível, inclusive, que o mercado tradicional como conhecemos seja inteiramente transformado a partir da celeridade, automação, descentralização e transparência que a tecnologia blockchain proporciona.

 

Sandbox regulatório: exemplo do Brasil

 

Uma das ações criadas para contribuir com a superação da dificuldade de criar regulamentação apropriada para as operações envolvendo tokens é o chamado “Sandbox Regulatório”, organizado pela Comissão de Valores Mobiliários brasileira (CVM).

O Sandbox funciona como um ambiente de testes monitorado pela CVM, onde os participantes previamente autorizados recebem permissões temporárias para desenvolver inovações em atividades regulamentadas.

No Sandbox a CVM, em colaboração com alguns de seus regulados, observa com maior proximidade quais iniciativas precisam ser tomadas para fortalecimento do arcabouço regulatório das operações envolvendo tokens.

 

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Tokenização traz inúmeras vantagens para a sociedade e para os serviços financeiros

 

A tokenização está em pauta no mundo todo não apenas por se tratar de uma transformação em andamento, mas também por trazer inúmeras vantagens. A democratização do acesso a investimentos em diversos segmentos é uma delas. Com os tokens, é possível transacionar frações de um ativo, o que permite que investidores com menor poder aquisitivo tenham acesso a mercados cujo custo de entrada seria muito alto sem os tokens.

Outro benefício é a diversificação da carteira de investimentos, pois investidores de perfis muito distintos passam a ter mais opções de ativos para aplicar seus recursos. Aumentando o leque de alternativas, o risco total da carteira tende a cair.

Em relação ao mercado de meios de pagamentos e aos serviços financeiros, a tokenização possibilita a expansão da educação financeira, uma vez que a população tem mais estímulos para aprender sobre novos segmentos de mercado e produtos financeiros que eram inacessíveis anteriormente.

Ademais, teremos transações mais rápidas, seguras e transparentes, já que a tokenização combinada com o blockchain mantém os dados das operações em segurança, o que facilita e impulsiona ainda mais o uso do ambiente virtual para serviços financeiros.

Por fim, podemos citar os custos mais baixos, visto que, por se tratar de registros digitais em contratos inteligentes, todo o serviço de conciliação e backoffice fica simplificado. Isso tende a reduzir muito os custos das operações, fazendo com que os envolvidos paguem taxas menores.

 

A Dock está de olho nas evoluções do mercado!

 

A tokenização de ativos traz um enorme potencial de criação de novos mercados e modelos de negócio. As empresas que aproveitarem esse momento de amadurecimento da regulamentação para estudar as oportunidades de uso de tokens em suas operações sairão na frente da concorrência.

A Dock está monitorando as inovações do mercado, especialmente no que diz respeito ao mercado de meios de pagamento e segue de perto as novidades relacionadas à tokenização.

Por meio da plataforma Dock One, empresas de diferentes setores podem usufruir das nossas soluções de Banking, Cards & Credit, Acquiring e Fraud Prevention. Saiba mais:


 

Tokenização: o que você viu neste artigo

 

  • Tokenização é o procedimento de representação digital de um ativo, através da tecnologia blockchain.
  • O token é registrado em uma linguagem de programação no qual ficam definidas as características do ativo, as regras para identificar seus proprietários e também as formas de como aquele ativo pode ser transacionado, em contratos inteligentes.
  • Um token pode representar o ativo inteiro ou apenas uma fração dele. O ativo representado pode ser fungível – substituível por outro da mesma espécie, valor ou qualidade – ou não fungível (conhecido como NFT) – como é o caso de ativos exclusivos, como obras de arte, por exemplo.
  • Todo ativo que possua valor econômico e seja passível de negociação pode ser tokenizado, como: imóveis, obras de artes, metais preciosos, commodities, objetos colecionáveis, direitos autorais etc.
  • No mercado de banking e meios de pagamento, os tokens barateiam as transações, aumentam a segurança dos dados sigilosos e a competitividade do setor.
  • O Banco Central do Brasil tem investido na criação do Real Digital para estimular a tokenização na economia brasileira.
  • O maior obstáculo à tokenização no mundo é o desenvolvimento de arcabouço regulatório adequado. O Sandbox regulatório brasileiro monitorado pela CVM é uma importante iniciativa do regulador para investigar soluções para essa dificuldade.
  • Uma vez superado o desafio regulatório, a tokenização poderá se ampliar em diversos segmentos, especialmente nos serviços e produtos financeiros.
  • A tokenização promove a democratização dos investimentos, permite transações mais seguras e transparentes, reduzindo riscos, custos e a burocracia de serviços de backoffice dos intermediários.

 

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