Open Data: este é o futuro do Open Finance?

Publicado em 14 jun 2022.

Tempo de leitura 16 minutos de leitura

Você já ouviu falar em Open Data ou Open Everything? Seria ele a evolução esperada do movimento de Open Finance? Entenda melhor o que é Open Data, como está seu desenvolvimento no Brasil e no mundo e como ele impactará seu negócio.

Depois do avanço do Open Banking e da sua expansão para o modelo do Open Finance, os mercados mundiais estão lidando com um movimento ainda mais abrangente: o Open Data (“Dados Abertos” em tradução livre), também chamado de Open Everything.

Neste artigo, vamos aprofundar o conceito para conhecer os principais desafios e oportunidades que certamente impactarão o mercado e as empresas que oferecem produtos e serviços de banking e meios de pagamento. Acompanhe!

 

O que é Open Data?

Na mesma linha do Open Finance, o Open Data também é um movimento fomentado pela quantidade exorbitante de dados gerados diariamente a partir da interação contínua entre indivíduos e instituições ao redor do planeta.

A ideia central é a mesma: cada pessoa é a titular das suas informações e poderá optar por consentir acesso a elas como uma forma de obter benefícios. Seja para contratar novos serviços, adquirir produtos ou apenas obter atendimento adequado de qualquer espécie.

Trata-se de mais um movimento de compartilhamento de informações viabilizado pelo surgimento de ferramentas afiadas para refinar dados coletados e gerar insights valiosos.

Com o avanço do Open Data, os dados coletados e tratados (comumente conhecidos como “smart data”) também poderão ser utilizados por outros segmentos, como transporte, energia, telecomunicações etc. Diversos setores, interessados neste insumo tão precioso que é a informação, estão colaborando para que a democratização do acesso seja expandida.

Em resumo, Open Data pretende possibilitar o manuseio de dados em sistemas robustos e compatíveis entre si, com pouco esforço. Através dele, instituições de todos os setores poderão compartilhar informações para trazer mais conveniência e eficiência para seu público.

É claro que, assim como no Open Finance, o intercâmbio de qualquer elemento só será possível se houver autorização expressa de cada indivíduo. O poder estará centralizado nele.

 

A importância do Open Data: por que esse tema é tão relevante?

Um estudo produzido pelo Instituto Global Mckinsey defende que, até 2030, a expansão da adesão ao Open Data poderá proporcionar um significativo impacto positivo no PIB de grandes economias como dos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido.

O efeito estimado varia entre 1 a 1,5 pontos percentuais de crescimento do PIB nestas economias, podendo chegar de 4 a 5 pontos percentuais no caso da Índia.

Esse cenário indica que o aprimoramento no tratamento de dados nos serviços financeiros pode ser uma peça chave para trazer crescimento, competitividade e produtividade aos mercados. Trata-se, inclusive, de uma ferramenta interessante para lidar com cenários de crise econômica e que poderá ser utilizado como recurso pelos governos.

Os potenciais benefícios estimados da adoção do Open Data atingirão negócios de micro, pequeno, médio e grande porte, de qualquer segmento de atuação. Afinal, assim como no Open Finance, essas instituições poderão, por exemplo:

  • Aprimorar seu conhecimento sobre o perfil de cada cliente, evitando fraudes;
  • Aprimorar seu conhecimento sobre o perfil de cada cliente, evitando fraudes;
  • Aprimorar seu conhecimento sobre o perfil de cada cliente, evitando fraudes;
  • Direcionar melhor suas ações de marketing, aumentando sua conversão em vendas;
  • Melhorar alocação de recursos humanos conforme a demanda de cada localidade;
  • Automatizar processos manuais criando valor ao longo da cadeia produtiva;
  • Garantir acesso de mais pessoas aos diferentes segmentos de serviços/produtos etc.

 

Open Data faz parte de um contexto de abertura de dados, para que haja crescente colaboração entre negócios para aprimorar a experiência do consumidor. Veja mais no infográfico da WhiteSight:

open data

 

O valor do Open Data para o mercado de pagamentos e banking

A democratização do acesso ao histórico financeiro dos clientes tende a aumentar ainda mais a competitividade do setor.

Os grandes e tradicionais bancos, que possuem fatia significativa do mercado, perderão o acesso exclusivo que têm sobre essas informações tão valiosas. Isso significa que essa grande vantagem competitiva em relação às fintechs e outros players será superada.

É de se esperar, portanto, que a diluição da informação entre os players do mercado seja acompanhada pelo acirramento da corrida pelo aprimoramento das ferramentas tecnológicas.

De olho nesta tendência, muitos bancos grandes já têm buscado adquirir ou desenvolver parcerias com startups e fintechs. Esta tem sido uma das maneiras encontradas para assegurar sua competitividade no desenvolvimento de aplicativos e sistemas modernos que proporcionem maior segurança e comodidade aos clientes.

Se o Open Finance já prometia revolucionar o segmento financeiro, é seguro dizer que o impacto da ação expandida do Open Data será ainda mais notável. Afinal, as empresas do setor precisarão se preparar tecnologicamente para interagir com instituições de diversos segmentos.

Por isso, é preciso se certificar de que poderão dispor de sistemas seguros, rápidos e suficientemente amigáveis não apenas para garantir uma boa experiência para seu cliente final como também para viabilizar a interoperabilidade com sistemas de outros segmentos de atuação.

Com o Open Data não se trata mais “apenas” de compartilhamento de informações para obter benefícios no acesso a produtos e serviços financeiros. Agora, indivíduos e organizações estarão interessados em utilizar todo histórico informacional que possuem sobre si para alcançar vantagens de todo tipo, até mesmo serviços de saúde, por exemplo.

Uma das maneiras de se preparar para isso é acompanhar a evolução do debate sobre Open Data no mundo. Vamos a ela!

 

Evolução do Open Data no mundo

Diversos países em toda parte do globo têm iniciado pesquisas e discussões a respeito da governança e usabilidade dos dados no escopo do Open Data. Reunimos aqui o quadro atual de algumas das principais iniciativas adotadas no momento.

 

Open Data no Reino Unido 

No Reino Unido, o grupo de trabalho denominado “Smart Data Working Group” sinalizou, ainda em 2020, a intenção do Governo de expandir iniciativas de dados inteligentes para outros setores. Entretanto, inicialmente optou-se por iniciar o trabalho com foco em setores mais bem regulamentados como setor financeiro, de comunicações, gás e energia.

Em seu último relatório divulgado em 2021, o grupo de trabalho britânico divulgou algumas das conclusões obtidas através dos estudos de caso promovidos em cada um dos setores selecionados. As oportunidades e desafios que estão sendo mapeados e discutidos servirão de base para elaboração de políticas adequadas.

Ah, vale lembrar que o Reino Unido foi pioneiro em implementação de Open Banking no mundo.

 

Austrália e seus primeiros passos com Open Data

Na Austrália a escolha também foi iniciar o Open Data nos segmentos bancário, de comunicação e de energia. Em 2013 foi implementado o “Consumer Data Rights” como forma de garantir o controle dos cidadãos sobre seus dados. O governo australiano firmou parcerias com institutos de pesquisa e representantes das indústrias envolvidas para debater sobre inteligência artificial e machine learning.

Além disso, as iniciativas do governo australiano têm sido focadas em promover reformas na legislação para garantir a transparência dos dados sem prejudicar a privacidade dos cidadãos. Têm sido observadas também as necessidades de adequação nas leis para que o trânsito internacional de informações para dentro e fora do país seja viável.

 

União Europeia e Open Data: como a região está conduzindo o tema?

A União Europeia, por sua vez, indicou a intenção de expandir o Open Data também para setores como indústria, transporte, energia, meio ambiente, agricultura, administração pública, educação, ciências e saúde.  Algumas recomendações neste sentido foram anunciadas no documento que tratou das estratégias europeias para dados.

Espera-se que, até 2030, a União Europeia tenha evoluído em termos de padronização e criação de infra estrutura adequada para viabilizar o compartilhamento do crescente volume de dados disponibilizados.

É apenas uma questão de tempo para que todos os setores sejam capazes de participar e usufruir deste amplo compartilhamento de dados, com segurança e eficiência. E não apenas as empresas, mas também indivíduos na figura de consumidores ou cidadãos, e os organismos governamentais se beneficiarão desta evolução.

 

Evolução do Open Data no Brasil

Com inspiração no modelo britânico, o Brasil adotou já de início o modelo expandido do Open Finance, não se restringindo apenas às instituições bancárias, mas abarcando todas aquelas que oferecem produtos financeiros como seguros e investimentos.

Foi criada também a Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, um marco civil importantíssimo para a proteção de dados, estabelecendo as principais diretrizes para a obtenção, armazenamento e tratamento das informações.

No momento, o país está na fase final de implementação do Open Finance, já em concordância com a LGPD, e até o final de 2022 está prevista a entrada do segmento de seguros (também conhecido como “Open Insurance”).

A expectativa é que, uma vez finalizada a adoção do Open Finance, as pesquisas e discussões sobre o Open Data sejam iniciadas. Embora o desafio seja ainda maior, algumas importantes lições já terão sido aprendidas até lá, o que poderá facilitar o processo.

Em paralelo, outras iniciativas para modernizar a prestação de serviços financeiros como a revisão da legislação cambial para facilitar pagamentos internacionais e a adoção do Pix, por exemplo, têm sido implementadas com apoio do Banco Central.

 

Oportunidades geradas pelo Open Data

A coletivização do acesso aos dados proporcionados pelo Open Data permitirá que instituições de diferentes ramos analisem as informações de forma holística e complementar. Assim, será cada vez mais fácil ter um entendimento profundo sobre a demanda de cada cliente.

Como resultado, podemos esperar uma maior personalização dos serviços e produtos oferecidos, a criação de janelas de oportunidade para inovação, além de maior eficiência na precificação de cada item.

A competição dependerá do uso da inteligência no tratamento dos dados.

O mercado tende a se tornar mais produtivo, competitivo e seguro. Afinal, as instituições terão mais informações para se prevenir contra perdas financeiras ocasionadas, por exemplo, pela falta de informações sobre a real capacidade de pagamento do cliente.

Com posse das informações sobre o histórico de pagamentos, rendimentos, dívidas, moradia, bens, hábitos de consumo etc, uma seguradora, por exemplo, poderá customizar sua oferta para o potencial contratante. Suas competidoras farão o mesmo, e o cliente final sairá ganhando, tanto no preço quanto na satisfação da sua necessidade.

É possível, inclusive, que a disputa pela via da praticidade dos serviços oferecidos ganhe mais relevância do que seu preço na hora da escolha. Com isso, abre-se ainda mais espaço para que novos modelos de negócio sejam criados.

 

Leia também – Identidade digital: a chave para o sistema financeiro do futuro?

 

Oportunidades para o segmento financeiro: veja exemplos

Ao passo que o Open Finance prevê ganhos significativos para os clientes e empresas em termos de acesso aos serviços financeiros e planejamento em geral, no Open Data os benefícios podem ser ainda mais abrangentes. Vamos a alguns exemplos.

Concessionárias ou Imobiliárias poderão garantir uma conversão maior de vendas ao estudar o histórico informacional do seu potencial comprador, como deslocamentos diários, rendimentos, pagamentos, financiamentos anteriores, perfil familiar da renda etc. Assim a empresa poderá guiá-lo numa experiência de compra mais personalizada e apropriada às suas necessidades.

A financeira associada, por sua vez, também terá acesso às informações para oferecer condições adaptadas à sua real capacidade de pagamento, considerando o bem a ser adquirido. Taxas, prazos e condições que sejam factíveis para aquele cliente e que não seriam viáveis sem este nível de detalhamento.

Seguradoras poderão efetuar o pagamento da indenização devida ao contratante sem necessidade de comprovação por parte do seu cliente. A burocracia comprobatória poderá circular diretamente entre a plataforma da seguradora e da agência aérea, no caso de um seguro viagem, por exemplo.

O uso mais amplo do enorme volume de dados gerados permitirá também que novas ferramentas financeiras sejam criadas. Como exemplo, podemos citar aplicativos que cancelam automaticamente assinaturas de serviços que têm sido pouco usados, se comunicando diretamente com a plataforma responsável por ele.

Será possível ainda mapear as informações bancárias para entender o comportamento do indivíduo ao longo do mês e detectar o momento mais adequado para uma oferta personalizada.

 

Quer ver mais uma oportunidade de avanço da sociedade com o Open Data? Assista ao TED Talk sobre uso de dados abertos no setor público:

Barreiras a considerar: principais desafios para o Open Data

As possibilidades são inúmeras, e os ganhos promissores. Porém, para que o Open Data se torne realidade, alguns importantes desafios precisam ser superados.

Um dos principais relacionado à expansão global do Open Data é regulatório. Assim como no Open Finance, é preciso refletir sobre a criação de regras sólidas para garantir a privacidade e segurança dos indivíduos cujas informações se deseja compartilhar dentro e fora do seu país de origem.

A necessidade de obter consentimento expresso de cada pessoa endereça uma parcela desta questão, mas não é apenas isso. É preciso haver clareza do que será compartilhado, qual a finalidade do uso e consequências possíveis. Além disso, é necessário que a regulamentação esteja em constante atualização para acompanhar o avanço tecnológico e adequação às normas internacionais.

Outro temor em discussão, especialmente nos Estados Unidos e Europa, é que o acúmulo de dados possa ser usado por grandes empresas de tecnologia para monopolizar os mercados.

Afinal, embora a expectativa seja justamente de ampliar a competitividade, é necessário criar leis que previnam fusões e aquisições em série, principalmente por parte de organizações de grande porte interessadas no acesso à tecnologia e bancos de dados de empresas menores.

Há ainda uma questão ética muito relevante a ser considerada no escopo de possibilidades que o Open Data traz. No Reino Unido, uma pesquisa mostrou que a opinião pública a respeito do compartilhamento de informações relacionadas à saúde é controversa.

Existe o receio de que o acesso de empresas aos dados de saúde das pessoas possa ter um efeito negativo sobre suas vidas. Seja pela exclusão em oportunidades de emprego, seja no aumento do custo para serviços de saúde, contratação de seguros e empréstimos, por exemplo.

Por fim, cabe citar também o imenso desafio tecnológico a ser enfrentado. A abrangente transmissão de informações proposta pelo Open Data exige que as instituições operem em plataformas compatíveis entre si, em constante aprimoramento para preservação da segurança. Empresas de segmentos diferentes precisarão de infraestrutura tecnológica capaz de viabilizar a interoperabilidade.

 

Leia também – Invisible banking: as finanças invisíveis são mais do que uma tendência ‘futurista’

 

Mais um passo para a evolução de pagamentos e banking

Como vimos, a implementação do Open Data promete revolucionar muitos setores da economia para além do segmento financeiro. Muitas oportunidades de inovação surgirão do aprimoramento das plataformas de tecnologia utilizadas e maturação da regulamentação que vem sendo criada e adaptada.

Aqui na Dock, já estamos acompanhando todo esse movimento e suas oportunidades que vão ajudar a democratizar as finanças!

Principais tópicos desse artigo: o que é Open Data e suas possibilidades?

  • Open Data é um modelo de compartilhamento de dados, quando autorizado pelo usuário a quem pertencem, entre empresas e organizações de diferentes segmentos, com foco em melhor experiência e melhores serviços.
  • O Open Data irá conectar setores como finanças, transportes, energia e seguros, permitindo que os dados sejam utilizados para desenvolvimento de soluções mais personalizadas e acessíveis a partir do histórico de relacionamento trazido de outro segmento.
  • O modelo de Open Data faz parte de um contexto maior que começou com o Open Banking e evoluiu para o Open Finance – ambos em implementação em muitos países.
  • Existem alguns países e regiões com projetos para Open Data, entre eles Reino Unido, Austrália, União Europeia e Brasil.

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