Nos últimos anos, a América Latina tem se tornado um centro de inovação no setor financeiro. Esse crescente movimento de transformação na região foi o principal objeto de estudo “Terras de Oportunidades 2ª Ed. – O poder financeiro da América Latina”, lançado recentemente pela Dock. O cenário de pagamentos e serviços financeiros no Peru foi um dos principais temas abordados pelo material.
A segunda edição do levantamento realizado pela equipe de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Dock oferece um panorama completo e aprofundado sobre o mercado latino-americano de banking e pagamentos, explorando as principais tendências, desafios e oportunidades que emergem em países-chave da região, como Brasil, México, Colômbia, Chile, Argentina e Peru.
Nos últimos anos, o Peru tem passado por uma transformação significativa no setor financeiro, impulsionada pelo aumento da conectividade digital e pelo crescimento do mercado de fintechs. O país apresenta um equilíbrio entre inovação e desafios estruturais, com a digitalização dos meios de pagamento ganhando espaço, mas ainda enfrenta barreiras como a alta informalidade econômica e a forte dependência do dinheiro em espécie.
Neste artigo, apresentamos insights da 2ª edição do Terras de Oportunidades sobre o panorama dos serviços financeiros no Peru, explorando as principais tendências e oportunidades do setor no país. Além disso, abordaremos as transformações que estão moldando um ambiente mais inovador no mercado peruano, como, por exemplo, o sucesso do Immediate Interbank Transfers (IIT), do Yape e PLIN, serviços de pagamento não vinculados à contas bancárias.
Peru: em recuperação econômica
O Peru é um dos mercados financeiros mais promissores da América Latina, com uma população de aproximadamente 34 milhões de pessoas e um PIB que supera os US$ 270 bilhões em 2023.
Recentemente, a economia peruana sofreu fortes impactos devido à pandemia, resultando em um aumento significativo na taxa de desemprego. Além disso, fenômenos climáticos afetaram setores estratégicos como agricultura, pesca e construção civil, aprofundando os desafios econômicos do país.
Apesar desse cenário adverso, a perspectiva para os próximos anos é otimista: projeta-se que o PIB volte a crescer em torno de 3% ao ano, enquanto a inflação deve se estabilizar em 2% ao ano. Com isso, o Peru se posiciona como um ambiente propício para investimentos, especialmente no setor financeiro e de pagamentos, que tem sido impulsionado pela digitalização e pelo interesse crescente da população por soluções inovadoras.
Um dos principais desafios para a economia peruana está na atual situação do mercado de trabalho. Cerca de 70% da força laboral atua em atividades informais. Esse cenário dificulta a bancarização da população e reforça a dependência do dinheiro em espécie, um dos maiores desafios para a digitalização dos pagamentos no país. No entanto, iniciativas públicas e privadas vêm avançando para ampliar o acesso a serviços financeiros, promovendo a inclusão financeira e fomentando a adoção de meios de pagamento digitais.
Outro aspecto relevante para esse ambiente de retomada é o perfil dos habitantes no Peru. Além de ser uma nação majoritariamente conectada – hoje, 81% dos peruanos têm acesso à internet –, 58% da população afirma gostar de experimentar produtos inovadores. Esse “apetite” por tecnologia se traduz em uma demanda por soluções mais personalizadas e convenientes.
De acordo com pesquisas recentes, 58% dos peruanos estão dispostos a experimentar serviços financeiros inovadores e tecnológicos, e o uso de carteiras digitais tem crescido rapidamente, impulsionado por plataformas como Yape e PLIN. Esse cenário representa uma grande oportunidade para fintechs e empresas do setor que desejam expandir sua atuação no país.
O dinheiro ainda reina no Peru
Mesmo com a expansão das soluções financeiras digitais, o dinheiro em espécie ainda predomina no Peru, representando 35% das transações realizadas em pontos de venda no país. Essa forte dependência de pagamentos em papel moeda se dá principalmente pela baixa inclusão bancária e pela limitada adoção de smartphones no país, dificultando a transição para meios digitais.
Além da forte utilização de dinheiro em espécie, o Peru também apresenta desafios significativos na utilização de outros meios de pagamentos considerados tradicionais. Atualmente, apenas 13% da população tem acesso a cartões de crédito, ao passo que o cartão de débito é utilizado apenas por 36% da população peruana.
No entanto, o Banco Central do Peru tem iniciado uma agenda de transformação do setor financeiro. Em 2016, o órgão desenvolveu o Immediate Interbank Transfers (IIT), um sistema basilar para os pagamentos instantâneos do país, que levou em consideração a falta de acesso a contas bancárias e também a falta de conscientização sobre os meios eletrônicos.
A partir dessa infraestrutura, muitos serviços financeiros inovadores foram lançados, como é o caso do Yape e do PLIN, que oferecem alternativas ao dinheiro físico e estão transformando a forma como os peruanos realizam pagamentos no dia a dia.
Esses meios de pagamentos digitais já representam 14% das transações nos pontos de venda e 11% no e-commerce. A previsão é que essas modalidades correspondam a 28% do volume de operações até 2027. Essa transformação tende a impulsionar ainda mais a inclusão financeira, permitindo transações rápidas e seguras mesmo para aqueles que não possuem conta bancária tradicional.
Tendências e oportunidades no setor de pagamentos e banking no Peru
Fintechs, bancos e empresas que desejam participar da modernização do sistema financeiro peruano podem aproveitar oportunidades significativas de atuação no país. A crescente digitalização dos pagamentos, impulsionada pelo aumento do acesso à internet e pelo avanço de plataformas como Yape e PLIN, abre caminho para novas soluções financeiras que atendam às necessidades da população ainda sub-bancarizada.
Confira algumas das tendências e oportunidades que as instituições podem aproveitar no crescente ecossistema financeiro digital do Peru.
Baixa digitalização e inclusão financeira
Apesar dos avanços recentes, apenas 54% da população adulta possui conta bancária, o que demonstra a necessidade de iniciativas voltadas para a inclusão financeira. A alta informalidade no mercado de trabalho e o acesso limitado a serviços financeiros tradicionais dificultam a bancarização da população, criando um cenário propício para o desenvolvimento de soluções digitais acessíveis.
Empresas que oferecem produtos financeiros inovadores, como carteiras digitais, microcrédito e infraestrutura de pagamentos instantâneos, podem desempenhar um papel essencial na modernização do setor. Além disso, políticas públicas e incentivos regulatórios têm impulsionado o crescimento de soluções digitais, ampliando o alcance dos serviços financeiros no país.
Crescimento dos pagamentos via QR Code
Os pagamentos móveis estão crescendo no Peru, com destaque para soluções baseadas em QR code, que se tornaram uma alternativa eficiente e acessível para comerciantes e pequenas empresas facilitarem as compras no país. De acordo com a Payments and Commerce Market Intelligence (PCMI), a penetração dos pagamentos via QR code no Peru chegou a 45% em 2021, demonstrando a rápida aceitação da tecnologia.
Esse avanço reflete a busca por meios de pagamento mais ágeis e seguros. Pequenos negócios e vendedores informais têm adotado cada vez mais os pagamentos via QR code, já que eliminam a necessidade de máquinas de cartão e reduzem os custos operacionais, permitindo transações instantâneas e acessíveis a um público mais amplo.
Expansão do ecossistema fintech peruano
O setor de fintechs no Peru tem apresentado crescimento acelerado, impulsionado por um ambiente mais favorável de investimentos na região. Até o 3º trimestre de 2023, o Peru atraiu mais de US$ 782 milhões em investimentos para fintechs do país, consolidando-se como um dos principais mercados emergentes desse setor na América Latina.
Atualmente, o Peru conta com mais de 200 fintechs em atividade. Os segmentos mais representativos do ecossistema peruano são os de empréstimos, gestão patrimonial, pagamentos e remessas, que juntos representam quase dois terços das fintechs ativas no país. O setor de empréstimos tem se destacado como o de maior crescimento recente, impulsionado pela demanda por crédito acessível para consumidores e pequenas empresas.
Avanço dos pagamentos transfronteiriços
O comércio internacional desempenha um papel crucial na economia peruana, com os pagamentos transfronteiriços ganhando destaque no e-commerce local. Atualmente, 44% das transações online no Peru envolvem compras de outros países, principalmente dos Estados Unidos e da China.
Além disso, as remessas de peruanos residentes no exterior representam uma fonte significativa de receita para o país. De acordo com o Banco Central de Reserva do Peru (BCRP), essas remessas alcançaram US$ 4,4 bilhões em 2023, um crescimento de quase 20% em relação ao ano anterior.
As fintechs têm desempenhado um papel essencial nesse cenário ao oferecer soluções mais ágeis, com menores taxas e custos de transação reduzidos para consumidores e empresas. Muitas dessas empresas também adotam transferências em tempo real e tecnologia blockchain, garantindo maior transparência e segurança nas operações financeiras internacionais.
Ascensão do Buy Now, Pay Later (BNPL)
A modalidade de pagamento Compre Agora, Pague Depois (Buy Now, Pay Later ou BNPL) tem ganhado força no Peru, principalmente entre os consumidores que buscam maior flexibilidade financeira para compras online e em lojas físicas.
Diversas fintechs têm firmado parcerias estratégicas com plataformas de e-commerce para ampliar a utilização dessa abordagem em compras parceladas com diversos varejistas, mesmo sem possuir um cartão de crédito ou histórico de crédito robusto.
Atualmente, algumas fintechs que estão se destacando nesse setor no Peru incluem a Powerpay, Cuotéalo e aCuotaz, que oferecem serviços inovadores de parcelamento e crédito digital, ajudando a impulsionar a adoção dessa modalidade no país.
América Latina: terras de oportunidades
Os avanços no setor financeiro do Peru fazem parte de um movimento mais amplo que ocorre em toda a América Latina. O estudo “Terras de Oportunidades 2ª Ed.” oferece uma visão abrangente sobre o ecossistema financeiro da região.
O material explora também o potencial de outros países, destacando indicadores macroeconômicos relevantes, perfis de consumidores e análises sobre inclusão financeira e digitalização.
Além disso, o estudo aprofunda tendências emergentes, como o avanço do Open Finance, e aborda inovações tecnológicas que estão redefinindo o futuro dos meios de pagamento e dos serviços bancários na região.
Brasil
O Brasil se destaca como líder em inovação financeira, com o sucesso do Pix e avanços significativos em Open Finance, impulsionando uma economia cada vez mais digital e inclusiva. Confira mais detalhes sobre o cenário de serviços e tecnologias bancárias do país neste outro artigo.
México
Apesar dos desafios de desbancarização e do uso predominante de dinheiro em espécie, o México tem avançado na digitalização dos serviços financeiros, impulsionado pelo crescimento do e-commerce e das carteiras digitais e ampliando a inclusão financeira. Você pode conferir mais detalhes no artigo que produzimos sobre o panorama do país.
Colômbia
A Colômbia apresenta um ecossistema fintech em rápida expansão, com destaque para a regulação avançada de Open Finance e o crescimento de soluções de pagamentos digitais e remessas internacionais.
Argentina
Na Argentina, apesar dos desafios econômicos, o ambiente fintech é dinâmico e diversificado, com um crescimento expressivo no uso de criptomoedas e soluções digitais para lidar com a instabilidade econômica.
Pagamentos e serviços financeiros no Peru: o que você viu neste artigo
- Após os impactos da pandemia e eventos climáticos, o Peru projeta um crescimento do PIB de 3% ao ano e inflação de 2%, criando um ambiente favorável para investimentos financeiros.
- O dinheiro ainda representa 35% das transações, e apenas 13% da população tem cartão de crédito. Iniciativas como o Immediate Interbank Transfers (IIT) buscam ampliar a digitalização.
- O número de fintechs peruanas cresceu 20,9% ao ano desde 2021, alcançando 193 empresas e US$ 782 milhões em investimentos, com destaque para o setor de empréstimos.
- Os pagamentos via QR code chegaram a 45% das transações em 2021, impulsionando a adoção digital, principalmente entre pequenos negócios e vendedores informais.
- 44% das compras online no Peru são internacionais, e as remessas de peruanos no exterior atingiram US$ 4,4 bilhões em 2023, crescendo 20%.
- O modelo BNPL cresce no Peru, liderado por fintechs como Powerpay, Cuotéalo e aCuotaz, apesar dos desafios de educação financeira e inadimplência.
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