Blockchain: a infraestrutura básica de uma nova era no setor financeiro

Publicado em 05 jul 2024.

Tempo de leitura 11 minutos de leitura

O setor financeiro tem sido alvo de inúmeras inovações nas últimas duas décadas, revolucionando a forma como interagimos com o dinheiro e realizamos pagamentos e transações. Dentre as novas tecnologias lançadas no mercado, o blockchain tem se destacado como uma das mais promissoras e disruptivas. Por conta de sua infraestrutura descentralizada e altamente segura, tem servido como base para uma nova era do setor de pagamentos e banking.

 Embora seja frequentemente associado às verificações e ao armazenamento de transações envolvendo criptomoedas, como, por exemplo, o Bitcoin e o Ethereum, o blockchain tem sido empregado de outras formas pelo setor financeiro. A criação de Moedas Digitais de Banco Central (CDBCs), a tokenização de ativos e a gestão de contratos inteligentes são algumas das aplicações dessa tecnologia por bancos, fintechs e instituições financeiras.

A versatilidade e o potencial de adoção dessa tecnologia tem deixado o segmento otimista. De acordo com um estudo do Allied Market Research, o mercado global de blockchain no setor financeiro deve sair de um valor de mercado de US$ 729 milhões, em 2022, para US$ 79,3 bilhões em 2032. Esse valor representa uma taxa de crescimento anual composto de 60,5% no período em questão.

Neste artigo, tratamos sobre a relevância dessa tecnologia para o futuro do setor de banking e pagamentos, os benefícios de implementá-la e como as empresas que oferecem serviços financeiros podem explorar essa oportunidade em prol do seu negócio.

 

Blockchain: o início de tudo

 

O blockchain teve início em 1991, quando os cientistas Stuart Haber e W. Scott Stornetta desenvolveram um sistema para registrar documentos digitais com data e hora de forma inalterável. Eles usaram técnicas de criptografia avançada para criar uma cadeia de blocos de dados, que vinculava cada documento ao anterior, garantindo a integridade dos registros. Essa abordagem estabeleceu as bases teóricas para o blockchain.

Anos mais tarde, em 2008, Satoshi Nakamoto publicou o artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System“, que estabeleceu as bases de funcionamento do ativo digital: a criptografia por meio de uma rede de computadores descentralizada. Dessa forma, Nakamoto criou a primeira aplicação prática do blockchain, que descrevia um sistema de dinheiro digital independente de uma autoridade central, no qual suas transações eram registradas em um livro-razão público e imutável.

No ano seguinte, a implementação do Bitcoin marcou o início da utilização do blockchain enquanto tecnologia. A crescente adoção da criptomoeda nas últimas décadas fez com que essa infraestrutura tecnológica evoluísse e ganhasse novos contornos.

Dessa forma, o blockchain deixou de ser apenas um livro-razão para ativos financeiros digitais e passou a expandir suas aplicações para outros setores, como, por exemplo, saúde, imóveis e logística.

 

O que é e como funciona o blockchain?

 

O blockchain é uma tecnologia de registro, que funciona como uma grande caderneta de contabilidade virtual, no qual os dados de todas as transações são armazenados de maneira segura, transparente e imutável.

Nesse livro-razão, cada página representa um bloco de dados, armazenando uma lista de transações. Quando um bloco está completo, ele é conectado ao anterior por meio de um código único de letras e números, conhecido como hash. Isso permite que seja criada uma cadeia de blocos, ou blockchain – em inglês.

O grande diferencial desse livro-razão é sua distribuição – ele não é guardado em um único local. Todos os seus dados ficam disponibilizados em uma rede de computadores. Cada máquina funciona como um nó da rede e possui uma cópia completa de todas as transações, garantindo que todos os registros sejam sincronizados e seguros.

Um exemplo prático do funcionamento do blockchain é o Bitcoin. Quando alguém envia bitcoins para outra pessoa, a transação é agrupada com outras transações em um bloco. Esse bloco é, então, verificado por vários nós da rede através de um processo chamado “mineração”.

Uma vez verificado, o bloco é adicionado à cadeia existente, e a transação é concluída. Esse processo garante que todas as transações sejam seguras, transparentes e imutáveis.

como funciona o blockchain

 

Quais as principais inovações do blockchain no setor de pagamentos?

 

Tecnologias como a tokenização, identidade digital, moedas digitais de bancos centrais, contratos inteligentes e finanças descentralizadas estão emergindo como soluções disruptivas provenientes do blockchain, trazendo avanços significativos em termos de velocidade, segurança e acessibilidade.

Essas inovações estão não apenas modernizando o sistema financeiro, mas também possibilitando a criação de novos serviços e produtos que atendem melhor às necessidades dos consumidores.

 

Tokenização

A tokenização é o processo de conversão de ativos físicos em tokens por meio da criptografia ponta a ponta do blockchain. Nesse procedimento, qualquer bem que possua valor financeiro, como imóveis, ações, obras de arte e até mesmo commodities, ganha uma representação digital. Isso permite que ativos tradicionalmente ilíquidos sejam facilmente comprados, vendidos e negociados.

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Durante o processo de tokenização, os ativos podem ter uma representação digital única ou fracionada, quando eles são divididos em partes menores, aumentando a acessibilidade para investidores de pequeno porte. No caso de uma propriedade imobiliária, por exemplo, ela pode ser dividida em milhares de tokens, permitindo que múltiplos investidores comprem pequenas frações do imóvel.

 

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Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs)

Muitos países estão explorando a emissão de suas próprias moedas digitais, conhecidas como CBDCs. No Brasil, o Banco Central está desenvolvendo o DREX, uma moeda digital que promete aumentar a eficiência dos pagamentos e a inclusão financeira. As CBDCs combinam a segurança e a eficiência do blockchain com a confiança das moedas emitidas pelo governo.

As CBDCs podem oferecer vários benefícios, como transações mais rápidas e seguras, menor custo de transação, maior inclusão financeira e controle sobre a política monetária. Além disso, essas moedas podem reduzir a dependência de intermediários, aumentando a eficiência e a transparência do sistema financeiro.

 

Smart contracts

Os smart contracts, ou contratos inteligentes, são contratos autoexecutáveis com termos de acordo diretamente escritos em código. Eles são armazenados no blockchain e executados automaticamente quando as condições predeterminadas são atendidas. Isso elimina a necessidade de confiança entre as partes, já que o cumprimento dos acordos serão realizados de qualquer forma.

Esses contratos podem ser utilizados em uma variedade de aplicações financeiras, incluindo empréstimos e seguros. Um smart contract pode ser programado para liberar fundos automaticamente quando uma determinada condição for atendida, como a entrega de um produto ou a conclusão de um projeto.

 

DeFi (Finanças Descentralizadas)

O termo DeFi ou Finanças Descentralizadas refere-se a um conjunto de aplicações financeiras construídas sobre blockchains públicos, como o Ethereum, por exemplo. Essas aplicações permitem a criação de serviços financeiros, como empréstimos, seguros e investimentos, sem a necessidade de intermediários tradicionais.

o que são finanças descentralizadas - infográfico

A tendência das finanças descentralizadas está crescendo rapidamente, com novos projetos sendo lançados nos últimos anos. Alguns exemplos populares de aplicações DeFi incluem: Uniswap, uma plataforma de investimento descentralizada; Aave, um protocolo de empréstimo; e MakerDAO, uma plataforma de stablecoin.

 

Quais são os benefícios de implementar o blockchain no setor financeiro?

 

O setor financeiro tem se beneficiado de diferentes formas a partir da implementação do blockchain.

Redução de custos e aumento da eficiência operacional; transparência e segurança proporcionadas pelo registro imutável e distribuído em rede; promoção da inclusão financeira por meio de serviços acessíveis e descentralizados. Essas são somente algumas das vantagens proporcionadas por essa tecnologia.

Essas características não apenas melhoram os processos internos, como também oferecem novas oportunidades de inovação e crescimento para bancos, fintechs e empresas que oferecem produtos financeiros.

 

Maior eficiência

A implementação do blockchain por essas organizações tem proporcionado um aumento significativo na eficiência de suas operações. Por conta do registro distribuído e a validação de transações por múltiplos nós da rede, essa tecnologia elimina a necessidade de intermediários tradicionais e processos burocráticos adicionais.

Com isso, é possível diminuir significativamente os gastos com o processamento de transações e compliance.

Outro aspecto relevante no aumento da eficiência operacional reside na automação de processos. Por meio de smart contracts, ou contratos inteligentes, é possível programar a realização de ações a partir do cumprimento de determinadas prerrogativas. Isso é feito sem a necessidade de intervenção manual, acelerando a execução e minimizando potenciais erros humanos.

 

Transparência e segurança

A natureza imutável do blockchain garante que todas as transações sejam registradas de maneira transparente e segura. Isso não apenas reduz o risco de fraude, mas também aumenta a confiança entre as partes envolvidas nas transações, já que cada transação no blockchain é visível para todos os participantes da rede.

Além disso, a segurança do blockchain é garantida pela criptografia e pelo consenso de toda a rede de computadores. Cada transação é verificada por múltiplos nós na rede, garantindo que apenas transações válidas sejam adicionadas ao registro de dados compartilhado do blockchain.

Isso torna essa rede extremamente resistente a ataques e fraudes, aumentando a segurança das transações financeiras.

 

Inclusão financeira

O blockchain tem o potencial de fornecer serviços financeiros a população desbancarizada em todo o mundo. Com apenas o acesso à internet e um smartphone, indivíduos podem acessar uma ampla gama de serviços financeiros, desde pagamentos a empréstimos e seguros. Isso é particularmente importante em regiões onde o acesso a serviços financeiros tradicionais é limitado ou inexistente.

A inclusão financeira impulsionada pelo blockchain pode ter um impacto positivo no desenvolvimento econômico. Isso porque essa tecnologia facilita a criação de soluções financeiras inovadoras, que atendem melhor às necessidades de populações desatendidas pelo sistema financeiro tradicional.

Além disso, possibilita que as pessoas de forma geral possam ter acesso a serviços como crédito, empréstimos, seguros e investimentos sem se associar diretamente a um banco.

 

Blockchain: o que você viu neste artigo

 

  • O blockchain tem se destacado como uma das tecnologias mais promissoras e disruptivas dentro do sistema financeiro.
  • De acordo com um estudo do Allied Market Research, o mercado global de blockchain no setor financeiro deve sair de um valor de mercado de US$ 729 milhões, em 2022, para US$ 79,3 bilhões em 2032.
  • Em 2008, Satoshi Nakamoto publicou um artigo que estabeleceu as bases teóricas e práticas do blockchain: a criptografia por meio de uma rede de computadores descentralizada.
  • O blockchain é uma tecnologia de registro, que funciona como uma grande caderneta de contabilidade virtual, no qual os dados de todas as transações são armazenados de maneira segura, transparente e imutável.
  • Redução de custos e aumento da eficiência operacional, transparência e segurança proporcionadas pelo registro imutável e distribuído em rede e a promoção da inclusão financeira por meio de serviços acessíveis e descentralizados são algumas das vantagens proporcionadas por essa tecnologia.
  • Tecnologias como a tokenização, identidade digital, moedas digitais de bancos centrais, contratos inteligentes e finanças descentralizadas estão emergindo como soluções disruptivas relacionadas ao blockchain.

 

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